domingo, 28 de setembro de 2008

28 de setembro - Dia mundial do coração

Num momento onde o mundo inteiro se volta para divulgar os graves problemas que afetam o coração humano, o grande desafio é o trabalho de prevenção. Neste contexto, encontrei um excelente artigo da Revista Isto É, que fala sobre "o poder das emoções sobre o coração".

Alegria, raiva, tristeza, ansiedade, paixão. A ciência começa a explicar como os sentimentos podem proteger ou piorar a saúde cardíaca.


Segundo Bacal, bons sentimentos ajudam na fabricação das protetoras endorfinas
O coração é o símbolo das emoções. É como se todos os nossos sentimentos por ele passassem e nele deixassem suas marcas, as boas e as ruins. Milenar, essa concepção tem servido de matéria-prima para os poetas ao longo da história. Agora, a ciência está mostrando que a influência das emoções sobre o coração vai muito além da beleza da poesia. Novas pesquisas começam a revelar que amor, raiva, alegria, irritação, tristeza e toda a vasta gama de sentimentos experimentada pelo ser humano promovem modificações orgânicas de tal dimensão que podem contribuir de maneira decisiva para o vigor ou a falência do órgão.

Pela primeira vez, essas descobertas dão as pistas do real peso das emoções sobre a saúde cardíaca. E forma-se pelo mundo uma corrente de especialistas que defende a inclusão de sentimentos como ansiedade e depressão na lista dos fatores de risco para males cardiovasculares. Eles estariam ao lado do colesterol, da hipertensão, do sedentarismo e de outras ameaças conhecidas.

da ansiedade

Empiricamente, médicos e cientistas intuíam, há décadas, que os sentimentos tinham um papel na manifestação das enfermidades cardíacas. Eles baseavam suas inferências nas observações que faziam da evolução dos pacientes, que podia ir melhor ou pior de acordo com o estado emocional. Há cerca de cinco anos, porém, começaram a surgir os primeiros estudos mais consistentes confirmando a associação entre a mente e o coração. Hoje, os trabalhos sobre o tema se multiplicaram e apresentam resultados tão coincidentes quanto preocupantes.

Tome-se como exemplo os mais recentes. Na edição de janeiro do jornal do Colégio Americano de Cardiologia - uma das entidades mais importantes da área - está publicado um artigo revelando que a exposição crônica à ansiedade e aos outros sentimentos a ela conjugados, como o medo, eleva em 30% a 40% a chance de um indivíduo saudável sofrer um infarto. "O risco que constatamos diz respeito somente à ansiedade. Está além do que poderia ser explicado pela pressão arterial, obesidade, pelo fumo ou outros fatores", explicou à ISTOÉ Biing-Jiun Shen, coordenador do trabalho e professor de psicologia da University of Southern California, onde o estudo foi realizado.

As conclusões foram baseadas em avaliações feitas em 735 homens saudáveis, acompanhados durante 12 anos.Outros trabalhos intrigantes dizem respeito ao papel da depressão. Há três meses, médicos do departamento de psiquiatria da Universidade de Colúmbia (EUA) divulgaram estudo no qual mostram que a doença praticamente triplica o risco de morte após um infarto. E no início do mês, cientistas de instituições americanas reconhecidas mundialmente, como Universidade de Harvard, de Yale e da Clínica Mayo, publicaram um artigo no Journal of Affective Disorders revelando que os efeitos negativos da doença sobre o coração permanecem mesmo após cinco anos. "Achávamos que a influência era mais forte até os primeiros seis meses depois do infarto. Mas não foi isso o que descobrimos", explicou Robert Carney, professor da Universidade de Washington e líder do estudo.

As investigações sobre o impacto da presença concomitante de ansiedade e depressão são ainda mais assustadoras. É possível ter uma idéia de quanto essa combinação pode ser uma bomba para o coração a partir de trabalhos como o da Universidade de Montreal, no Canadá, publicado na edição de janeiro do Archives of General Psychiatry. Após entrevistar 804 portadores de doença coronariana sob controle, os cientistas verificaram que aqueles que se mostravam ansiosos e depressivos apresentavam o dobro de possibilidade de sofrer um novo infarto em comparação aos que não manifestavam as mesmas emoções.

Mas há outros dados preocupantes na pesquisa. "Descobrimos também que os pacientes cardíacos são mais depressivos e ansiosos do que a população em geral", contou à ISTOÉ Nancy Frasure Smith, coordenadora do trabalho.Do cérebro ao músculo cardíaco Ao mesmo tempo que crescem as evidências da atuação dos sentimentos sobre o coração, aumentam as investigações para elucidar de que maneira eles interferem no mecanismo cardíaco. Trata- se de uma pesquisa refinada, que se vale das ainda não muito numerosas informações sobre como se dão as ligações entre o cérebro, onde os sentimentos são processados, e o coração.

Por enquanto, o que se sabe é que as emoções, tanto as boas quanto as ruins, disparam no cérebro dois processos. "O primeiro é o envio de sinais elétricos ao músculo cardíaco, via sistema nervoso. Isso vai repercutir no ritmo dos batimentos", explica Ricardo Monezi, professor de fisiologia do comportamento da PUC/SP e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo. "O segundo é a produção de uma cascata de substâncias químicas que terão impacto em várias estruturas do coração", afirma.Embora os caminhos sejam os mesmos, as repercussões irão variar de acordo com a natureza da emoção. Até este momento, conhece-se mais o que ocorre quando elas são negativas.

Irritação, mágoa e tristeza, por exemplo, causam a redução do calibre dos vasos sangüíneos, provocando a elevação da pressão arterial. Também há aumento da freqüência cardíaca. Só estes dois fatores já obrigam o músculo cardíaco a trabalhar mais. E se essa situação se torna crônica, o desgaste fica maior.

Síndrome do coração partido

Entretanto, há mais complicações que só agora começam a ser identificadas. Uma delas foi revelada há um mês por cientistas da Indiana University- Purdue University Indianapolis (EUA). Eles foram responsáveis por uma pesquisa que comprovou pela primeira vez que sentimentos de hostilidade e depressão aumentam a produção de duas substâncias inflamatórias, a interleucina-6 e a proteína C-reativa. Isso é péssimo para o coração. Hoje, a aterosclerose, doença caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura nas artérias, já é conceituada como uma enfermidade inflamatória.

Isso porque se acredita que a inflamação tenha um papel-chave no desenvolvimento do problema. "Por isso, a circulação de grandes quantidades de substâncias inflamatórias contribui para agravar a doença", explicou à ISTOÉ Jesse Stewart, coordenador da pesquisa.Um dos fenômenos que mais têm chamado a atenção dos médicos, porém, é a ocorrência da chamada síndrome do coração partido. Trata-se de um problema singular e diretamente relacionado às emoções: ele atinge indivíduos sem fator de risco tradicional, mas submetidos a sentimentos negativos de forma crônica ou aguda.

Mesmo sem uma artéria obstruída por placas de gordura, por exemplo, o paciente sofre os sintomas de um infarto, como dor no peito, e acaba apresentando um espasmo nas artérias coronárias, as que irrigam o coração, além de ficar com o músculo cardíaco dilatado.Proteção garantida Os primeiros casos começaram a ser registrados há cerca de dez anos. Hoje, há registros em todo o mundo, inclusive no Brasil. O tratamento é o mesmo dado a casos de infarto, mas sem a necessidade de desobstrução das artérias. Entre os medicamentos indicados estão os betabloqueadores. "Eles blindam o coração da descarga de adrenalina que ocorre nessas situações", explica o cardiologista Marcelo Paiva, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.

A adrenalina é liberada em situações de prolongada exposição a sentimentos negativos ou durante explosões de raiva, por exemplo. E em grande parte é ela a responsável pelos efeitos prejudiciais desses sentimentos. Bastar saber que é a adrenalina que, entre outras coisas, causa o estreitamento do calibre dos vasos sangüíneos. Por isso a razão de tentar controlar sua concentração no organismo.

Monezi diz que emoções produzem impacto em várias estruturas cardíacas
A boa notícia é que a ciência está descobrindo que, se fazem mal, as emoções também fazem bem ao nosso coração. Diversos estudos demonstram que as boas situações da vida, como a paixão e a alegria, disparam uma cadeia de reações - a exemplo das negativas -, mas com efeitos protetores. Nesses casos, há liberação de substâncias como a serotonina e a dopamina, que, entre outras funções, melhoram a atividade cardíaca e contribuem para regular a pressão arterial. "Além disso, há a fabricação de endorfinas", explica o cardiologista Fernando Bacal, do Instituto do Coração e do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.

Uma das conseqüências do "banho" de endorfina é a maior proteção do endotélio, o tecido que reveste a parede dos vasos sangüíneos. Tratando-se de saúde cardíaca, isso é fundamental. Quanto mais íntegro o endotélio, menor a chance de acúmulo de placas de gordura nessa superfície. Outra vantagem é que o sistema de defesa do organismo fica mais forte, deixando as estruturas cardíacas menos vulneráveis a infecções. Há mais ganhos. De acordo com um trabalho da Universidade de Ohio (EUA), quando um indivíduo controla melhor sua raiva, cresce a capacidade de o organismo se recuperar de eventuais lesões.

A explicação, segundo o cientista Steve Bloom, do Imperial College London, é simples. "O corpo prioriza uma ação por vez. Se você está com raiva e estressado, ele irá primeiro lidar com esses sentimentos, antes de se dedicar a acelerar processos de cura", disse.Revolução na cardiologia Informações como essas tornaramse preciosas para a moderna cardiologia e estão provocando uma revolução na maneira de cuidar do coração. "Hoje, temos certeza de que as emoções podem precipitar eventos cardíacos", afirma o cardiologista Valdir Moisés, assessor médico em cardiologia do Fleury Medicina e Saúde, de São Paulo.

Baseados nessa constatação, muitos especialistas defendem que é hora de incluir os sentimentos na lista dos fatores de risco oficiais para doenças cardiovasculares. "Já há evidências científicas suficientes para que emoções negativas, especialmente a depressão, sejam assim consideradas", afirmou à ISTOÉ Jesse Stewart, da Indiana University-Purdue University Indianapolis.

No Brasil, essa corrente também ganha força. No consultório do médico Costantino Costantini, diretor de um hospital especializado em cardiologia com sede em Curitiba, os doentes também têm suas emoções avaliadas, assim como os dados sobre colesterol e pressão arterial. "Considero que, dependendo de sua natureza, elas são sim fatores de risco", justifica o especialista.Mudança no tratamento A forma de tratar o coração também mudou. No receituário, em muitos casos há a indicação de antidepressivos ou ansiolíticos (contra ansiedade). "Receitamos quando é necessário", explica o médico Ricardo Pavanello, supervisor de cardiologia do Hospital do Coração, de São Paulo. Também tornou-se imprescindível o suporte psicológico. Em centros de primeira linha, os serviços de psicologia são cada vez mais atuantes e têm uma missão tão difícil quanto especial. "Ajudamos os pacientes a dar novo significado à vida", explica Maria Elenita Favarato, psicóloga-chefe do serviço de psicologia do Instituto do Coração (InCor).

De fato, o auxílio especializado é fundamental para que o paciente compreenda o processo emocional que contribuiu para levá-lo ao hospital. "O infarto é um jeito agressivo de mostrar que algumas coisas na vida não estão bem. Por isso é importante entender o que está acontecendo", explica o cardiologista Carlos Alberto Pastore, diretor de serviços médicos do InCor. A terapia psicológica ajuda também o paciente a melhorar sua habilidade de lidar com as situações, tentando, por exemplo, evitar a exposição contínua às emoções negativas. E aumentar a capacidade de sentir só o que faz bem ao coração.


No ritmo certo

A secretária Sueli Balbino Ponte, 52 anos, enfrentou fortes sintomas de síndrome do pânico por mais de 20 anos. “Era assustador. Sentia um aperto no coração e ele batia de um jeito que parecia que ia sair pela boca. Cheguei a pensar que morreria”, relembra. Ela já não saía mais de casa quando foi se tratar na Universidade Federal de São Paulo. “Fiz terapia e sessões de biofeedback, um exame que ajuda a entender como o corpo e o coração reagem às emoções”, conta. “Também aprendi exercícios de respiração para controlar a ansiedade e os batimentos cardíacos. Recuperei minha qualidade de vida”, conta Sueli

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