segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dia Mundial de Luta Contra a Aids

Histórico Mundial

Transformar o 1º de dezembro em Dia Mundial de Luta Contra a Aids foi uma decisão da Assembléia Mundial de Saúde, em outubro de 1987, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). A data serve para reforçar a solidariedade, a tolerância, a compaixão e a compreensão com as pessoas infectadas pelo HIV/Aids. No Brasil, a data passou a ser adotada, a partir de 1988. Em 1991, um grupo de profissionais de arte de Nova York criou o laço vermelho como símbolo desta luta para homenagear amigos e colegas mortos em decorrência da Aids.

No Brasil: sobrevida de pacientes dobra em 12 anos

A sobrevida das pessoas que vivem com Aids nas regiões Sul e Sudeste dobrou entre 1995 e 2007. O tempo médio de vida saltou de 58 meses para mais de 108 meses no período. Estudo encomendado pelo Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde acompanhou cerca de dois mil adultos diagnosticados entre 1998 e 1999. Mais da metade deles (60%) continuaram vivos por, no mínimo, 108 meses depois do diagnóstico. Pesquisa semelhante feita com outro grupo de pacientes diagnosticados entre 1995 e 1996 apontou que metade desses permanecia viva por apenas 58 meses após a confirmação da doença.

Os dados fazem parte do Estudo de Sobrevida de Pacientes de Aids no Brasil, cujo resumo será publicado juntamente ao Boletim Epidemiológico Aids/DST 2008. O estudo, lançado nesta terça-feira, 25 de novembro, em Brasília (DF), foi realizado em 23 cidades do Sul e Sudeste do país. No período do diagnóstico, as duas regiões concentravam 82,4% da epidemia brasileira.

Sobrevivência de crianças - A chance de sobrevivência de crianças menores de 13 anos que vivem com Aids aumentou substancialmente desde o início da epidemia. O estudo "Ampliação da sobrevivência de crianças com Aids: uma resposta brasileira sustentável" mostra que a probabilidade de uma criança diagnosticada na década de 1980 tinha cerca de 25% de chance de estar viva após 60 meses. As diagnosticadas no período 1999-2002 (depois da introdução de TARV) tinham cerca de 86%.

Ao todo, foram acompanhadas 2,1 mil crianças dos 26 estados e do Distrito Federal em diferentes estudos. O objetivo foi determinar a mediana de sobrevida (tempo em que 50% dos pacientes estão vivos) para o grupo. Em 2007, nove anos depois, 85% das investigadas no último estudo continuavam vivas.

Dados gerais - Os dados do novo Boletim Epidemiológico Aids/DST mostram que, de 1980 a junho de 2008, foram registrados 506.499 casos de Aids no Brasil. Durante esses anos, 205.409 mortes ocorreram em decorrência da doença. A epidemia no país é considerada estável. A média de casos anual entre 2000 e 2006 é de 35.384. Em relação ao HIV, a estimativa é de que existam 630 mil pessoas infectadas. Do acumulado, a região Sudeste é a que tem o maior percentual de notificações – 60,4%, ou seja 305.725 casos. O Sul concentra 18,9% (95.552), o Nordeste 11,5% (58.348), o Centro-Oeste 5,7% (28.719) e o Norte 3,6% (18.155).
  • A região Sul segue a tendência de estabilização do país, porém em patamares elevados ( a cada 100 mil habitantes em 2000, existiam 26,3 casos. Em 2006, a taxa passou para 28,3).
  • No Sudeste, há discreta queda: de 24,4 em 2000 para 22,5 em 2006. A epidemia no Sudeste é a mais antiga do Brasil
  • No Centro-Oeste, essa queda se apresenta a partir de 2003. Eram 21,3 casos a cada 100 mil habitantes em 2003 e 17,1 em 2006.
  • Há discreto aumento da taxa de incidência no Nordeste. O índice subiu de 6,9 para 10,6 de 2000 para 2006.
  • Há um aumento da taxa de incidência no Norte. De 2000 para 2006, o índice subiu de 6,8 para 14 no Norte.

Acima dos 50 anos - A análise da série histórica da epidemia mostra que a taxa de incidência entre pessoas acima dos 50 anos dobrou entre 1996 e 2006. Passou dos 7,5 casos por 100 mil habitantes para 15,7. A maioria dos casos de Aids, porém, ainda está na faixa etária de 25 a 49 anos. Dos 47.437 casos de Aids notificados desde o início da epidemia em pessoas acima dos 50 anos, 29.393 (62%) foram registrados de 2001 a junho de 2008. Desse último grupo, 37% são mulheres e 63%, homens.

Segundo Mariângela Simão, diretoria do Programa Nacional de DST e Aids, "os preconceitos que cercam a vivência da sexualidade em pessoas acima dos 50 anos limitam e dificultam a abordagem sobre o HIV". A Aids sempre foi vista como uma doença de jovens e adultos, como se a população mais velha não fosse sexualmente ativa. Mas os números mostram que a epidemia cresceu nessa população, principalmente nos últimos anos, afirma. O recorte regional mostra que a incidência vem crescendo em todas as regiões nessa faixa etária. Em 1996, existiam três casos da doença para cada 100 mil habitantes no Norte. Em 2006, a taxa subiu para 13. No Nordeste, o acréscimo foi de 2,8 para 7,6, no Sudeste de 10,9 para 18,3, no Sul de 7,1 para 22,9 e no Centro-Oeste de 6,8 para 14,1.

Como uma resposta a tal realidade, o Programa Nacional de DST e Aids fará campanha de direcionada a essa população, utilizando o slogan "Sexo não tem idade. Proteção também não", o objetivo é despertar nos adultos maduros e nos idosos a importância do uso do preservativo nas relações sexuais.

Estatísticas - Da população geral diagnosticada com Aids desde o início da epidemia até junho de 2008, foram identificados 333.485 casos em homens (66%) e 172.995 casos em mulheres (34%) . A razão de sexo no Brasil diminui ao longo da série histórica em 1986 eram 15 casos no sexo masculino para um no sexo feminino. Desde 2000, há 15 casos entre eles para 10 entre elas. Essa aproximação na razão de sexo reflete a feminização da epidemia.

Fatores que contribuem para a vulnerabilidade das mulheres à Aids: desigualdade nas relações de poder; maior dificuldade de negociação das mulheres quanto ao uso de preservativo; violência doméstica e sexual; discriminação e preconceito relacionados à raça, etnia e orientação sexual; além da falta de percepção das mulheres sobre o risco de se infectar pelo HIV.

Forma de transmissão - A forma de transmissão predominante é por via heterossexual tanto no sexo feminino (90,4% dos casos) como no masculino (29,7% dos casos). Entre os homens, a segunda principal forma de transmissão é homossexual (20,7% dos casos), seguida de usuários de drogas injetáveis (19%). Nas mulheres, a segunda forma de transmissão é entre usuários de drogas injetáveis com 8,5% dos casos. No período de 1980 a junho de 2008, foram diagnosticados no país 11.796 casos de Aids por transmissão vertical (de mãe para filho). De 1996 a 2006, há queda considerável nessa categoria de exposição – de 892 para 379 casos notificados, uma queda de 57,5%.

Em crianças menores de cinco anos, a taxa de incidência caiu de 5,5 (por 100.000 habitantes) em 1996 para 3,1, em 2006. As taxas de incidência nessa faixa da população caem nas regiões Sudeste (de 8,8 para 3,3), Sul (de 10,9 para 5,7) e Centro-Oeste (de 4,0 para 2,3). Há crescimento no Norte (de 0,9 para 2,9) e Nordeste (de 0,9 para 2,0).

Escolaridade - Redução de casos de Aids entre os que têm mais de 12 anos de estudo. Passou de 14% em 1990 para 8,7% em 2006. Já na população que tem entre oito e 11 anos de escolaridade, o índice passou de 13,9% para 24,5%.

Raça/cor - Melhoria da qualidade dos dados de raça/cor no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), com redução do percentual de ignorados. Passou de 47,9% em 2000 para 8,8% em 2006.

Mortalidade - De 1980 a 2007 foram declarados 205.409 óbitos por Aids no Brasil. Na divisão por sexo, 73,4% se concentra entre os homens (150.719 óbitos acumulados) e 26,6% entre as mulheres. Considerando o período de 2000 a 2006, o coeficiente de mortalidade é estável, apresentando aumento entre as mulheres (de 3,7 óbitos por Aids por 100 mil habitantes em 2000 para 4 em 2006) e diminui entre os homens (de 9 em 2000 para 8,1 em 2006).

Estudo de sobrevida em adultos

De acordo com o estudo realizado em 2007, o diagnóstico precoce, seguido do acesso a medicamentos anti-retrovirais e do acompanhamento clínico adequado contribuíram para aumentar a sobrevida dos pacientes. A pesquisa apontou ainda que:

– o uso de medicamentos anti-retrovirais tem impacto positivo no tempo de vida após o diagnóstico;
– pacientes diagnosticados ainda assintomáticos têm maior sobrevida que aqueles que já desenvolveram doenças oportunistas;
– pacientes de maior escolaridade (níveis médio e superior) vivem mais;
– mulheres têm maior sobrevida;
– os infectados por via sexual vivem mais que os expostos ao vírus por uso de drogas injetáveis;
– o desenvolvimento de tuberculose contribui para a redução da sobrevida (a tuberculose é hoje a doença associada ao HIV que mais mata);
– aqueles que fizeram profilaxia de pneumocistose (pneumonia potencialmente grave) vivem mais tempo.


Na opinião da diretora do Programa Nacional de DST e Aids, Mariângela Simão, o mais importante é que as diversas intervenções adotadas ao longo dos anos potencializaram o impacto do programa brasileiro. “Os resultados dos estudos de sobrevida são uma prova disso. Países como o Brasil, que optaram pelo acesso universal ao tratamento na década de 1990, determinaram a mudança na história natural da doença. Em pouco mais de dez anos, a aids deixou de ser uma sentença de morte”, afirma.

No início da década de 1990, o tratamento estava baseado apenas na administração do AZT (zidovidina). Atualmente, 18 anti-retrovirais são fornecidos pelo Ministério da Saúde. A última incorporação foi feita em outubro deste ano. O Raltegravir faz parte de uma nova classe de medicamentos, indicado para quem já desenvolveu resistência às outras classes disponíveis. Estima-se que em 2009 cerca de mil pacientes se beneficiarão do novo medicamento.

Até o fim deste ano, estima-se que 185 mil adultos estejam em tratamento. Para assegurar o acesso universal à terapia no país, será investido cerca de R$ 1 bilhão.

Desafios – Mariângela Simão lembra ainda que é preciso enfrentar desafios importantes para melhorar a qualidade de vida e aumentar ainda mais a sobrevida dos pacientes de aids. “Afinal, mesmo com todos esses avanços, ainda não há perspectiva de cura”, destaca a diretora do PNDST/AIDS. Ela enumera quatro pontos fundamentais para direcionar o enfrentamento da epidemia:

  • ampliação do diagnóstico precoce. Hoje, mais da metade das confirmações da doença são feitas quando já existe importante deterioração imunológica .
  • cuidar do acompanhamento clínico. A resistência do vírus aos medicamentos pode ser evitada pela boa adesão ao tratamento.
  • As ações para melhorar a resposta às co-infecções do HIV com tuberculose e hepatites virais. A primeira, por exemplo, é a doença associada à aids que mais mata. Já as hepatites, quando associadas ao vírus da aids, apresentam maior risco de progressão para cirrose hepática e maior mortalidade.
  • Fortalecer a resposta dos serviços de saúde aos efeitos adversos do tratamento. Incluir incentivos a um estilo de vida saudável (alimentação adequada e atividade física), prevenindo a ocorrência de doenças cardiovasculares e da lipodistrofia.

Apesar da melhor condição de vida de quem tem aids, o tratamento, muitas vezes, exige esforço do paciente, já que, para alguns, é preciso conviver com efeitos adversos importantes. Por causa disso – afirma ela – é importante não descuidar da prevenção de novas infecções. “E até o momento, o uso do preservativo é a forma mais eficaz para evitar a exposição ao HIV”, diz.

Fontes: www.aids.gov.br/diamundial, http://www.amb.org.br/mc_noticias1_abre.php3?w_id=4058


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