Por Adriana Amorim
Aos sete anos de idade, ele já estava "quebrando as cadeiras", forma como entendia a expressão "eu quebro essas cadeias". Liderando a igreja Batista da Lagoinha há 37 anos, Márcio Valadão continua querendo fazer Deus sorrir. O ministério, que completou 50 anos em 2007, tinha no início de seu pastorado, aproximadamente 400 membros.
O pastor valoriza a intimidade com Deus, o que, para ele é fundamental para qualquer cristão. Para o líder, o grande papel de Cristo foi trazer a reconciliação do homem com Deus. Em entrevista ao Guia-me, com voz suave e jeito tipicamente mineiro, Valadão explicou como a intimidade leva à santidade, à vontade de querer agradar a Deus por 24 horas, como um apaixonado.
Guia-me: Para o senhor, intimidade com Deus seria a principal característica de um líder aprovado pelo Senhor?
Pr. Márcio Valadão: Não só para um líder, mas para todo cristão. A primeira coisa que Deus busca é exatamente o nosso relacionamento com Ele. Ou seja, o que Jesus Cristo veio fazer foi reconciliar o homem com Ele, e essa reconciliação é exatamente o que traz intimidade da pessoa com Deus.
Enquanto a pessoa não tem a intimidade dela restaurada com Deus, a vida com Deus, ela está morta. Então, Jesus veio exatamente para reconciliar o homem, trazer a salvação. A maior necessidade do ser humano é voltar a essa reconciliação, porque a Bíblia diz que Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo, reconciliando o homem com Ele. Então, essa reconciliação traz a intimidade, leva a pessoa a ser íntimo de Deus. Quando olhamos para Abraão, ele é chamado pai da fé não por causa daquele gesto de ter levado Isaque, mas pelo fato do Senhor tê-lo chamado de amigo de Deus. Jesus chamou os discípulos, dizendo: Não vos chamo servos, mas de amigos. Então, como nós podemos olhar por esse prisma? Como ser amigo de Deus, ter intimidade com Deus? Exatamente assim. Nós fomos criados para a intimidade. Essa intimidade, ela nos leva à santidade. E a santidade é exatamente uma virtude de Deus. Ou seja, hoje quando a gente procura não pecar não é por causa da conseqüência do pecado, mas porque vai ferir e entristecer o coração daquele que mais nos ama, do nosso amigo, daquele que é íntimo. A intimidade acaba tornando-se quase que um freio para não pecar, não é?
Guia-me: E como preservar essa intimidade? Pela oração?
Pr. Márcio Valadão: A oração pode virar também um dever, mas ela é um momento que começa como um dever, mas à medida que vai se aprofundando, vai chegando ao nível do deleite. Ou seja, quando a oração deixa de ser dever e passa a ser deleite, é diferente. É como, vamos imaginar, um casal, mas só que o rapaz não gosta da moça, para ele é um tormento ir à casa dela, e tudo. Então, aquilo vira um peso para ele. Comprar um presente para ela não traz prazer. Agora, quando eles estão apaixonados, um pensa no outro as 24 horas. Um pensa no outro, em como agradá-lo. Então, é a mesma relação que existe. quando a gente vê Paulo falando: Cristo amou a igreja e entregou-se a ela. É exatamente essa relação de amor, de comunhão, relacionamento.
Guia-me: Por isso o senhor fala muito em estar apaixonado, de querer agradar o outro o tempo todo?
Pr. Márcio Valadão: Exatamente. A Palavra de Deus diz que o Senhor haveria de ver o fruto de seu penoso trabalho e se alegraria. Então, a razão da nossa existência é fazer Deus sorrir. Pode parecer estranho isso, mas é o que a Palavra diz. Hebreus 12:2 diz que Jesus, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz. Deus deseja que a comunhão nunca termine. Quando a gente vê Jesus transformando a água em vinho, porque ele transformou a água em vinho? Para a festa não acabar. Ele transforma em vinho para quê? Se o vinho tivesse acabado, a festa iria embora. Para que a comunhão continue, para que a alegria continue. Então, a fé cristã não é aquilo que muitas vezes as pessoas pensam, uma religião cheia de dogmas, de ritos, obrigações, não é assim. Por exemplo, a beleza de um casamento é exatamente a base que une, uma aliança, uma aliança que independe de circunstâncias. Por exemplo, se a mulher ficou velha ou o homem ficou velho, se houve um acidente e um dos cônjuges ficou tetraplégico, não significa que acabou ali o casamento. Mas qual é a razão do casamento? É um buscar a felicidade do outro. É assim que Jesus vê. Exatamente para que nós, os homens, pudéssemos ser fonte de alegria para ele também.
Guia-me: O senhor ministra que intimidade leva à santidade e santidade leva à autoridade. O senhor líderes que estão com autoridade com a permissão de Deus, mas não estão em santidade.
Pr. Márcio Valadão: Bem, isso aí ele pode ter durante um tempo, mas não vai durar muito. Ou seja, a Palavra diz que tudo aquilo que Deus faz é para durar para sempre. Porque muitas vezes as pessoas vêem a autoridade como domínio. Se você quiser conhecer um mentiroso, é sempre aquela pessoa que diz assim: 'O que eu estou falando é a verdade. O que eu estou falando é a verdade. Você pode acreditar em mim'. Então, quando a pessoa usa esses termos, é porque é mentirosa. O verdadeiro nunca precisa falar isso: O que eu estou falando é a verdade. Porque não se espera de uma pessoa verdadeira outra coisa que não seja a verdade. Então, o mentiroso sempre tem que ficar afirmando. A diferença entre autoridade e domínio é muito grande. Nem sempre a pessoa que tem autoridade tem domínio. É interessante este aspecto. Jesus, ele tinha e tem a autoridade, mas quando ele estava ali muitos tinham o domínio. Quando Jesus foi levado diante de Pilatos, Pilatos disse: Eu tenho poder, eu tenho domínio sobre você. Aí Jesus voltou e disse: 'Nada seria te dado se meu pai não tivesse permitido isso. Então, ele não tinha autoridade nenhuma, a não ser que Deus estivesse usando tudo aquilo'. Então, quando existe abuso de autoridade, é preciso ver se esta autoridade não está nos levando a pecar. Então, nós temos que ter sempre esse entendimento. Quando os discípulos também, no momento de perseguição, falaram assim: Mas importa obedecer a Deus do que aos homens. Agora, eu preciso me submeter, e nunca é uma questão assim de domínio, essa autoridade é aquela que Jesus possuía, cheia da compaixão, cheia de amor.
Guia-me: O senhor nasceu em um lar evangélico. Li que, aos sete anos, dizia "eu quebro essas cadeiras" em vez de "eu quebro essas cadeias". Seu pastorado foi inspirado em alguém próximo ou desde aquele momento Deus o estava preparando?
Pr. Márcio Valadão: Eu nasci com dois dedos do pé colados. Então, a minha mãe queria levar para o médico para abrir. E aí a minha avó, mãe dela, disse assim: 'Não, Arminda - era o nome dela - não faça isso. Talvez seja uma marca nesse menino' (risos).
Eu fui criado sim no Evangelho, mas até os 15 anos fiquei na igreja sem ter uma experiência com o Senhor. Eu me converti quando tinha 16 para 17 anos. Aí a coisa mudou. Aí é que essa marca... A marca, entenda, não tem nada a ver. Mas ali eu fui salvo, recebi o batismo com o Espírito Santo e o chamado também. Toda uma caminhada. Estamos caminhando ainda. Não chegamos, mas queremos chegar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário