quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Planejamento estratégico na Igreja ou comunidade

Olá gente!

Esta é uma entrevista que o Instituto Jetro fez com Enos Heidemann sobre a sua experiência com Planejamento Estratégico na Igreja onde atua. A falta de informações sobre planejamento voltado para o contexto eclesiástico fez com que ele estudasse o assunto e desenvolvesse um roteiro de planejamento participativo. Tanto a entrevista como o downloud deste roteiro estão disponíveis no site do instituto.

Pode até ser que, para quem não tem familiaridade com o assunto, este não seja o momento mais adequado para aplica-lo, haja vista que normalmente a implementação de um planejamento estratégico começa em janeiro, e não haveria tempo para discuti-lo apropriadamente. No entanto, é uma excelente oportunidade para entender melhor como funciona este tipo de planejamento e como ele pode nos auxiliar em nossas ações. O exemplo da IECLB também é bastante didático e contribui como uma excelente referência.

Minha sugestão para aqueles que se interessarem é baixar o arquivo que esta disponível no site, e montar um rascunho que se adapte a sua realidade. Conversar com as pessoas de sua igreja, ministério ou projeto para aprofundarem o assunto e fazer os ajustes necessários para implementa-lo a partir do 2º semestre de 2009.

"Nós somos a filial de um negócio em que o dono (Pai) já estabeleceu os objetivos prioritários, o gerente geral (Filho) já estabeleu a estratégia global e o gerente operacional (Espírito Santo) esta pronto a nos ajudar em como colocar tudo isso em prática na nossa realidade local"

Lauberti Marcondes
http://diaconia-integral.blogspot.com


Entrevista com Enos Heidemann

O roteiro traz informações básicas sobre planejamento e detalha o caminho necessário para a igreja local entender o tempo e o contexto no qual está inserida. O resultado deste processo de análise são as ações necessárias para alcançar as metas propostas.

Enos Heidemann é bacharel em teologia e pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB. Desde julho de 2002 atua como Pastor Sinodal do Sínodo Rio dos Sinos com sede em São Leopoldo, RS, uma das 18 unidades organizacionais da denominação.

Como e quando começou o seu interesse a respeito de planejamento estratégico?

Enos - Foi na década de 1990, no meu primeiro campo de atividade ministerial. Tive a oportunidade de conhecer e acompanhar a implantação de Planejamento Estratégico em empresas do ramo calçadista. A tradição da gestão familiar ficou obsoleta quando os desafios, demandas as exigências do mercado fizeram com que se organizassem de uma nova forma estratégica e planejada.

Qual foi a sua motivação em desenvolver um formulário próprio para as igrejas do Sínodo?

Enos - A percepção de que o mundo passa por profundas mudanças que se processam num ritmo acelerado, jamais visto na história da humanidade. A Igreja de Jesus Cristo atua neste contexto e aquelas chamadas de históricas podem cair na tentação de querer continuar repetindo o seu jeito de ser Igreja. Deu certo durante muitos anos mas, o tempo que vivemos é novo e requer de nós novos jeitos de ser Igreja. Não podemos fechar os olhos para os desafios que estão diante de nós e nem achar que somos inatingíveis e insubstituíveis na nossa forma e proposta de ser Igreja. Precisamos, parar, avaliar, planejar e agir de modo que o testemunho cristão, em palavras e gestos, seja dado de forma clara, convincente e, sobre tudo, que vá ao encontro das necessidades do ser humano em nosso tempo.

Que material foi utilizado e que pessoas foram envolvidas no desenvolvimento deste instrumento?

Enos – Ao buscar instrumentais sobre PE constatei que existiam diferentes métodos de planejamento, mas todos, que na época vim a conhecer, haviam sido desenvolvidos para empresas e instituições seculares. Os métodos tinham uma sistemática indutiva, ou seja, desenvolver princípios e produtos com vistas às demandas do mercado. Como Igreja Cristã, nós já temos o “produto”. Nosso ponto de partida é levar o Evangelho às pessoas em nosso tempo. Optei, então, por trabalhar com o método de planejamento dedutivo, devidamente adaptado com os objetivos eclesiásticos propostos. O Método de Planejamento Dedutivo é um plano que deduz estratégias de ação a partir de um ponto básico e fundamental que já está definido. Este plano inclui com maior ou menor intensidade os elementos ou passos do método indutivo, mas é desenvolvido num sentido inverso. Não buscamos um “produto” para um mercado aberto, mas como vamos levar com maior eficiência o “produto” que já temos para este meio.

Como foi o treinamento ou orientação das igrejas lideradas para a utilização deste formulário?

Enos - Durante dois anos nosso Sínodo desenvolveu seminários periódicos de formação de obreiros, obreiras e lideranças leigas com vistas à implantação e a avaliação sistemática do planejamento elaborado nos diferentes contextos. Percebemos que antes de apresentar a metodologia é de suma importância trabalhar a conscientização da necessidade de planejamento em nosso tempo e do monitoramente das ações, prazos, competências estabelecidas e resultados desejados. Nesse sentido, a proposta que desenvolvemos apresenta motivações bíblicas e contextuais como fundamentação para a necessidade de planejamento.

Quais os resultados práticos observados até o momento na utilização do instrumento de planejamento?


Enos – Estão aparecendo lenta e gradativamente, porque não temos a cultura do planejamento no nosso jeito de ser Igreja. Mas em muitos contextos esse processo está implantado e trazendo muitos resultados positivos.

Haveria relação entre as igrejas com dificuldades de implantação e suas lideranças?

Enos - Sim, com certeza. As lideranças das Comunidades, Grupos e Instituições Eclesiásticas em sua maioria são homens e mulheres de boa vontade. Na maior parte das Comunidades não temos gestores permanentes. A troca de lideranças nos cargos eletivos em curtos espaços de tempo e a troca de obreiros e obreiras interfere muito na continuidade dos projetos. Os obreiros ordenados e as obreiras ordenadas também não têm em seu currículo de formação noções mínimas de gestão eclesiástica e planejamento estratégico. Criar a cultura do planejamento e a formação adequada para isso deve ser um processo de permanente investimento e acompanhamento.

Quais são as próximas ações do seu Sínodo em relação ao planejamento estratégico?

Enos - As próximas ações estão agora diretamente vinculadas à adesão plena a segunda etapa do Plano Nacional de Ação Missionária da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – PAMI. A IECLB aprovou a adotou uma nova etapa do PAMI e está desenvolvendo o Plano Operacional que apresenta uma Matriz de Planejamento Básica para todas as Comunidades, as quais estão sendo motivadas a desenvolver o seu planejamento específico nos diferentes contextos no âmbito nacional.

Que conselho daria a pastores regionais ou denominacionais que desejam iniciar o trabalho de orientação de suas igrejas lideradas?

Enos - O conselho que deixo está nas palavras finais da proposta de planejamento que desenvolvemos. É importante que sempre tenhamos presente que “a Igreja é de Deus e nele tem seu alvo”. O ser humano se caracteriza pela visão do futuro. Kirkegaard afirmou que “só podemos compreender a vida olhando para trás e só podemos viver a vida olhando para frente”. A sistemática simples desta proposta de planejamento traz resultados imediatos quando os desafios forem abraçados com seriedade por todas as lideranças. Um planejamento inicial não resolverá todos os nossos problemas e nem será capaz de concretizar todos os sonhos comunitários. Mas, é necessário iniciar, arriscar, avaliar e redefinir as propostas de atuação.
Há dois arquivos que acompanham esta entrevista: Roteiro de Planejamento Participativo e a Rosa do PAMI, ambos disponíveis no nosso setor de download.

Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o site www.institutojetro.com e comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com

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