quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Participação da juventude nas causas sociais: fazendo o voluntariado acontecer

“Com um tipo de gente - como Cristo - com uma utopia - o Reino – e um estilo de vida na sociedade, o mundo pode se tornar mais justo, mais saudável, mais solidário, mais humano. Escolha uma causa, lute por ela com toda a paixão de que você é capaz”.

Sílvia Kivitz

Sílvia Regina Jorge Kivitz. Brasileira, casada com Ed René Kivitz, com quem possuem dois filhos, Fernanda e Vitor. Formada em Serviço Social, é consultora em projetos para o Terceiro Setor e Coordenadora da Rede Solidária da Igreja Batista da Água Branca (IBAB), da qual seu marido é pastor.

Mackenzie, São Paulo, 13 de setembro de 2008.



Introdução

Diante da dimensão das causas sociais tanto no Brasil como em todo mundo o jovem pode se sentir perdido sobre em que projeto se engajar. Existem diversas causas dignas solicitando nossa participação, como a questão dos índios, meninos de rua, kilombos, 3ª idade, etc, etc. Como saber a causa que devemos ingressar? Será que é aquela que nos convence mais? NÃO. Certamente somos tocados por várias fontes que carecem de ajuda, mas precisamos de um critério melhor para essa escolha.

Primeiramente, precisamos ter um panorama geral das questões sócias, mas também fazer uma avaliação pessoal, identificando a causa que nos apaixona mais e seguir fechando o foco.

Uma coisa que ilustra bem esta questão é o interesse esportivo. Por exemplo, uma pessoa que gosta de água. Ela identifica diversas modalidades de esportes aquáticos do seu interesse, mas precisa escolher um. Se dentre eles ela escolher a natação, sua escolha não terminou, ela precisa definir qual estilo. Borboleta, peito, livre, 50m, 400m, etc, etc. Ela vai fechando o foco até chegar à atividade onde terá um desempenho melhor.

Precisamos estar atentos, pois hoje existe uma supervalorização das atividades que estão na ponta da cadeia da ação social. Aquelas que tratam diretamente com as pessoas. Entretanto, é necessária toda uma cadeia de trabalho. Desde pessoas que fazem trabalhos de limpeza e outros de retaguarda que ninguém vê, passa por aqueles que executam atividades administrativas ou de planejamento, apoio e mobilização, e claro, também inclui quem lida diretamente com as pessoas assistidas. Mas todos, independentemente da função são importantes para que o processo seja bem sucedido e perene.

Algumas pessoas não têm condições de oferecer uma ajuda permanente, mas suas ações pontuais também são importantes. Não adianta nada a pessoa dizer que esta disponível, mas não assume nenhum tipo de compromisso. É melhor dizer que tem uma hora por semana e se comprometer com isso.

A questão social passa por 3 tipos de recortes interessantes:
a) Alguma coisa pode ser feita;
b) Algo mais pode ser feito;
c) Uma ação estrutural precisa ser feita.

Se não entendermos a questão das estruturas e do contexto que estamos inseridos corremos o risco de ficar “enxugando o gelo”. Conhecer as necessidades humanas, as questões globais e locais são fundamentais para entender a lógica dessas estruturas. Senão, combateremos sempre as conseqüências, e nunca chegaremos às causas. Evidentemente, tem hora que precisamos dar o peixe antes de ensinar a pescar porque se não a pessoa morre de fome. Contudo, a ação social precisa se deslocar do eixo do simples assistencialismo para ações transformadoras.

Educação não é só ensinar, precisa incluir também. A continuidade também é algo importante. Hoje se fala muito em ensinar a pescar. Mas, onde estão os lagos? Depois que você montou um projeto para ensinar computação para os jovens da periferia o que eles vão fazer com isso? Onde poderão trabalhar? A preocupação com este acompanhamento é que poderá dizer se ação teve êxito e gerou transformação social.

Sozinho ninguém consegue nada. É difícil manter uma ação social ao longo do tempo se não encontramos parceiros, pessoas para dividir a carga. Muitos começam bem, mas abraçam uma causa maior do que podem suportar e acabam por desistir no meio do caminho.

Existem alguns mínimos sociais que todos precisam ter acesso e que Estado deveria prover: alimentação, moradia, saúde, educação, cultura e lazer.


A - MISSÃO E VOCAÇÃO

"Cooperar com Deus para colocar ordem no caos."

1)Referências Bíblico/teológicas

a)Missão Integral
b)Salvação
c)Alteração da realidade

Esta em curso uma mudança de paradigma missionário, em vez de evangelizar (comunicar) servir (agir em amor). Assim como a sociedade começa a valorizar mais a espiritualidade em vez da religião.

2)Experimentar os sinais do Reino.

Sim, porque não devemos ter a ilusão que vamos trazer o paraíso a terra, mas podemos promover os sinais de justiça e amor nas comunidades onde estamos inseridos, apontando para a realidade final do Reino dos Céus.

3)Cada necessidade humana é um campo de ministério

A igreja também é um campo de voluntariado. As pessoas estão começando a desprezar isso. Em minha própria igreja estamos desenvolvendo um trabalho de valorização do voluntariado interno.

B – DESENVOLVENDO AÇÕES DE IMPACTO

- assistencialismo e assistência
- ações que resultam em mudanças da realidade
- ações que geram protagonismo, emancipação e autonomia.

C – OUTRO OLHAR

- Precisamos enxergar não apenas as carências, mas o potencial das pessoas e as possibilidades que se abrem em razão disso.

Veja o caso de uma missionária que foi para Angola, na África e percebeu que as crianças ficavam abandonadas, pois as mães saiam por dias para tentar trocar alguma coisa por comida (escambo). Ela conseguiu desenvolver uma cooperativa que juntando diversas mulheres de uma vila, começaram a fazer produtos para vender e até exportar com as coisas do próprio lugar. Esta ação transformadora fez com que as mães, além de conseguirem uma renda, tivessem mais tempo para cuidar dos filhos. Tudo isso, porque enxergou o potencial do lugar e das pessoas, onde elas mesmas só viam miséria.

- Precisamos investir para despertar os recursos internos que todo ser humano tem em razão da imagem de Deus estar nele.

Um caso interessante aconteceu comigo durante um curso que ensinava pessoas carentes a transformar papel higiênico em artesanato. Uma moça que sempre ouviu de sua mãe que não servia para nada, que era uma imprestável, chegou ao curso com essa imagem e disse que não conseguiria aprender. Eu lhe afirmei, com toda convicção que ela era capaz porque havia sido criada a imagem de Deus. No final do dia, ao ver que aqueles papéis higiênicos tinham se tornado em lindos objetos exclamou: “se um simples papel higiênico pode ser transformado em algo de valor, eu também posso”.

D – OITO JEITOS DE MUDAR O MUNDO (existem outros)

1)Combate a Fome e a Miséria

Existem bom trabalhos sendo feitos pelo SESC e CEASA, e outros podem ser criados. O site www.nospodemos.org.br tem excelentes dicas.

2)Prover Educação Básica de Qualidade a Todos

Não devemos desprezar o dia dos pequenos começos, como disse o profeta Zacarias. Existem coisas simples que podem ajudar muita gente. Além dos 18 milhões de analfabetos, o Brasil tem um problema grave de analfabetismo funcional, onde as pessoas sabem ler, mas não conseguem entender o que esta escrito.

3)Promover a Igualdade dos sexos e valorização da mulher

4)Combater a Mortalidade infantil

A pastoral da criança da Igreja católica realiza um trabalho fantástico com o acompanhamento de recém-nascidos em regiões desoladas e/ou carentes, utilizando o soro caseiro e um avental para pesar. Eles conseguem mobilizar um contingente de mais de 100 mil voluntários por todo o Brasil.

5)Trabalhar pela Saúde das gestantes

Uma ação legal que começou com uma lei do vereador Carlos Alberto Júnior, foi o passe gestante, pois muitas não faziam acompanhamento pré-natal pela distância aos postos de saúde.

6)Combater a AIDS/Malária

O Brasil é o país com mais casos de Malária da América Latina. E por incrível que pareça esta aumentando os casos de AIDS entre os idosos.

7)Lutar pelaa Qualidade de Vida / Respeito ao Meio Ambiente

As questões relacionadas ao Meio Ambiente são as que têm mais recursos disponíveis para execução de projetos. Mas, é importante lembrar da grande burocracia de papéis que é necessário apresentar e que também, são feitos normalmente através de concursos. Ou seja, são poucos os que se beneficiam destes valores disponíveis.

8)Todo Mundo Trabalhar pelo Desenvolvimento

É um excelente momento para estabelecer parcerias, se organizar em redes para fazer as coisas acontecerem.

“Escolha uma causa com a qual você se identifique, lute por ela com toda a paixão de que você é capaz.”

E – VOLUNTARIADO

1) O que é o trabalho voluntário?

- ação de qualidade
- compromisso, competência, prazer;
- eficiente
- duradoura
- expressão de cidadania
- construção de uma sociedade mais justa
- não compete com o trabalho remunerado
- não compete com a ação do Estado
- gera crescimento e desenvolvimento pessoal

2) Quem é o voluntário?

É a pessoa que, motivada por valores de participação e solidariedade, doa seu TEMPO,TRABALHO e TALENTO, de maneira espontânea e não remunerada, para uma causa de interesse social e comunitário.” [Centro de Voluntariado SP]

3) Como escolher aonde ser voluntário?

Primeiro não se empolgue faça uma auto-avaliação.

- O que me faz bem?
- Quais minhas habilidades?
- Que causa escolhi?
- Qual grupo desejo atingir?
- Quanto tempo tenho disponível?

Firmar compromissos claros e factíveis.

Lei do Voluntariado. Antes as organizações não queriam ter voluntários porque eles depois entravam com causas trabalhistas. Mas depois da Lei isto mudou e existe uma normatização para este setor.

F - PERGUNTAS E DÚVIDAS

1)As angústias, dores e tensões de quem convivem constantemente com situações de degradação social.

Estas situações nos tiram da zona de conforto, mas é necessário um acompanhamento e um trabalho em parceria para sobreviver e dar frutos. É bom fazer um perfil do voluntário e uma descrição detalhada da atividade para verificar se é compatível, mas, normalmente são tantas as necessidades, que às vezes isso é esquecido.

2)A burocracia para legalizar projetos sociais.

Existe uma diferença de natureza entre “associação” e “fundação”, pois ONG é somente um apelido para Organizações não Governamentais. De fato estas questões são bastante burocráticas mesmo e o ideal é desenvolver primeiro um projeto, ainda que pequeno e depois quando ele já estiver atuando partir para sua organização.

3)O ingresso no voluntariado.

É melhor procurar organizações que já tem uma tradição em oferecer assistência social para ingressar como voluntário. Existem muitas entidades sérias de diversos segmentos precisando de gente para ajudar. O Centro do Voluntariado de São Paulo faz um cadastro e direciona a pessoa para a entidade mais próxima, pois não se deve gastar mais tempo no deslocamento do que na atividade voluntária.

4)A dificuldade na coordenação de voluntários.

Lidar com gente é sempre difícil, mas é necessário assumir compromissos e trabalhar na motivação das pessoas. Ter reuniões para que as pessoas entendam que a tarefa-meio que elas executam é maior do que, normalmente pensam. A pessoa precisa entender melhor toda a engrenagem da ação social para estar motivada. Por exemplo, limpar os banheiros, guardar materiais no estoque, ou realizar brincadeiras com as crianças são os meios para se atingir algum fim. É isso que os voluntários precisam compreender. O Centro do Voluntariado de São Paulo oferece diversos cursos para orientar estas questões.

G – INDICAÇÃO DE SITES PARA PESQUISA

www.voluntariado.org.br
www.faca.parte.org.br
www.portaldovoluntario.org.br
www.parceirosvoluntarios.org.br

A srta. Poliana fez a recepção dos usineiros na sala, a abertura da oficina e recolheu a ficha de avaliação e o abaixo-assinado.

Obs.: Este texto não é propriamente da autoria de Silvia Kivits, mas ele esta baseado em suas idéias. O texto é uma adaptação escrita por Lauberti Marcondes a partir de suas anotações por ocasião da palestra proferida pela Silvia Kivits no Usina 21 e do material encaminhado pela própria Silvia.

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