sexta-feira, 30 de julho de 2010

Janela 4/14 - Jesus e as Crianças (Ariovaldo Ramos)

Olá Gente!
Como mencionei anteriormente, na reunião sobre a Janela 4/14 que tratou do movimento mundial de investimento no protagonismo infantil de crianças entre 4 e 14 anos de idade, o Pr. Ariovaldo Ramos foi o responsável pelo devocional de abertura. A exposição baseada em Mateus 18:1-4 foi uma verdadeira espada de dois gumes, como podem conferir abaixo na cópia encaminhada pelo pessoal de RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Social).
Jesus e as Crianças (Mateus 18:1-4)
Jesus Cristo comunicou que a criança simboliza o que há de melhor na humanidade, aquilo que gostaria de ver reproduzido em todos nós, pois disse que "se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus". Jesus disse também que se identifica com as crianças: "quem receber uma criança, tal como está, em meu nome, a mim recebe". Jesus afirma que o castigo para os que desviam as crianças seria indescritível, sendo melhor ser assassinado, conforme Mateus 18:6.  Nos versículos seguintes ele afirma que para evitar correr o risco de fazer tropeçar uma criança, um pequenino, valeria qualquer sacrifício (versículos 7 a 9). Jesus falou que as crianças têm um tratamento especial por parte do Pai, pois os seus anjos estão sempre na presença dEle (versículo 10). Por isso, vale qualquer ato heróico para salva-las, tal como o do pastor que, por causa de uma ovelha, deixa nos montes outras noventa e nove, saindo em busca da perdida. Para nós parece loucura, que pastor abandonaria noventa e nove ovelhas nos montes, à deriva dos ladrões e predadores naturais, por causa de uma ovelha que se extraviou, a menos que transformasse o seu salvamento numa motivação sem alternativos: ou ela ou nada, de acordo com os versículos 12 e 13. Jesus nos comunica que para resgatar as crianças vale qualquer medida heróica, mesma a, aparentemente, louca.
Jesus adverte que o Pai não quer que nenhum só dos pequeninos se perca, conforme o versículo 14. Diante dessas preposições de Jesus, como podemos analisar a situação da criança na realidade brasileira? Imaginemos Jesus em uma de nossas cidades, São Paulo por exemplo,. Jesus poderia, a exemplo do que fez em Cafarnaum, pegar uma das crianças que perambulam pela Praça da Sé – um daqueles meninos que a gente quer colocar na Febem, e colocá-lo no meio da roda formada por seus questionadores e apresentá-lo como símbolo do que há de melhor na humanidade? Infelizmente, não. Nossa sociedade, pela injustiça e pela discriminação está descaracterizando as crianças – como vimos em todas as informações colocadas acima – transformando-as no símbolo do que há de pior na humanidade, de maneira que, quem cruza com uma delas, em vez de afago, oferece desprezo, ao invés de abraço ou acolhida, oferece medo.
Não podemos perder a perspectiva de que as  crianças, as abusadas ou violentadas sexualmente, as que cometem atos infracionais, as que são portadoras de Hiv/Aids, as abandonadas, as que exercem atividades análogas a trabalho escravo, as que não sabem ler ou escrever, as que são vítimas de violência, ainda são os tais pequeninos de que fala Jesus. E são, justamente, porque estão nessa situação pela ganância de uma sociedade injusta, pela desestrutura familiar que as fazem tropeçar, sendo desviadas dos caminhos e da proposta do Pai. O mais grave disto é como fazê-las entender Deus no meio de suas circunstancias. Dizer às crianças que sofrem violência doméstica que Deus é pai faz com que pensem na figura do pai que nelas descontou toda a sua impotência: "Lá em casa a gente só recebe pancada, eu não gosto de voltar pra casa", conta Kelly, de 13 anos, que faz malabarismo em sinais de trânsito, junto com seus três irmãos. Pai é quem os espancou, aviltou, expulsou ou quem ainda os explora. Nossas crianças não estão em condições de entender o que significa a justiça de Deus.
Como dizer a uma criança em situação de rua que Deus é justo, se para ela os símbolos de justiça trazem a lembrança tortura dor e violência: "Tem policia que é muito mau. Batem na gente de bobeira. Eu não gosto deles não, eles sempre querem que a gente desapareça", conta Felipe, de 12 anos, que vive nas ruas de Natal, no Rio Grande do Norte. Como crianças abandonadas entendem o amor de Deus? Ana, de 15 anos, conta que quando tinha cinco anos foi para um posto de saúde, no Rio de Janeiro, com sua mãe. Andaram mais de uma hora e sua mãe a arrastava pela mão: "eu estava cansada e minha mãe parecia não se importar. Teve uma hora que ela me colocou no colo e me senti, por um segundo, cuidada. Mas, ela só me levantou para me oferecer para uma pessoa, que estava do outro lado da calçada. Ele queria me dar, como deu meu irmão para uma senhora no posto de saúde". Ana já tem uma filha, de dois anos, e amor pra ela sempre está vinculado às relações sexuais: "Comecei cedo... com dez anos eu gostava de ficar com os garotos" A realidade brasileira faz as crianças se desviarem de Deus. A sociedade as faz tropeçar. Elas estão perecendo...
Os números confirmam que permitimos o desenvolvimento dessa tragédia. Ai das sociedades que, indiferentes, convivem com ela há muito tempo sem se interessar em priorizar a solução de tais problemas. Melhor seria terem sido destruídas por um cataclismo. Para evitar o juízo de Deus não vale a pena à sociedade sacrificar o pérfido modelo econômico que pratica e partir para um que garanta justa distribuição de renda? Não vale a pena sacrificar a internacionalização acelerada da economia por um regime de pleno emprego? Se uma das nossas opções nos faz tropeçar, impedindo o pleno desenvolvimento da infância e da adolescência, extirpemos, lancemos fora os modelos que adotamos. É melhor abrirmos mão de sermos modernos do que no afã de modernidade aprofundar o inferno daqueles por quem Deus Chora, pois, o inferno deles nos engolirá.
Governantes – Uma vez me perguntaram, numa questão pertinente a cidade que moro, se não me parecia justo a postura de um candidato a prefeito que, contra seu adversário, levantava a acusação de que a autarquia que cuidava do transporte publico, graças a política daquele, estava padecendo de prejuízo financeiro. Respondi que o trabalhador, o usuário de transporte público, paga impostos, não para que as tais autarquias sejam lucrativas, mas para ir sentado para o trabalho. Que motivação tem nossos governantes? O que os anjos dos pequeninos, que vêem constantemente a face do Pai, falam da nossa sociedade, de nossos governantes, de nossa elite, de nossa igreja? O que estarão pedindo a Deus, senão justiça, enquanto clamam por Sua misericórdia aos pequeninos.
Que atos heróicos – como deixar as noventa nove ovelhas – devemos nós, a sociedade, fazer para escapar da ira de Deus? Tornar a criança, e seu bem-estar, prioridade máxima de qualquer administração. Isso significa participar genuinamente de seu resgate urbanizando favelas, com investimentos significativos na área de saúde e educação, de um novo modelo agrícola, de uma nova forma de ocupação do solo (como um país de terras férteis convive com o espectro da fome? Como uma nação com tanto espaço para ocupar tornou-se eminentemente urbana?), de pleno emprego, salários dignos e, acima de tudo, um resgate imediato das crianças que se encontram em profundo estado de carência e de abandono pela criação de condições mínimas de dignidade, ainda que isso signifique aumento da presença do estado. Melhor isso do que cair nas mãos do Deus Vivo, como escrito em Habacuque 10: 31.
Igreja – Certamente teremos que compreender que diante da injustiça não há inocentes. Todos são culpados pelos pecados da sociedade: os que os cometeram e os que se omitiram. O nosso problema não é com o Diabo, mas como o Deus justo que se levanta contra toda a perversidade, como ditos em Salmo 94 e Romanos 1:18. Só a intercessão da Igreja pode deter a mão de Deus, conforme Ezequiel 22:30. Portanto, a intercessão tem de ser conseqüente, como visto em Tiago: 15-17, de modo que a Igreja deve constituir-se em canal de libertação espiritual e sócio-econômica destas crianças.
E, mais, a Igreja tem de assumir o papel de profeta, tem de denunciar o pecado estrutural e não apenas o individual, tem de exigir arrependimento por parte dos poderosos. Não basta amarrar o diabo, tem de haver arrependimento, senão a coisa fica pior ainda, segundo Mateus 12:45. Não basta amarrar o diabo enquanto as crianças são assassinadas nas esquinas.
Lembremo-nos da palavra do Senhor Jesus Cristo: "Assim, pois, não é  da vontade de vosso Pai Celeste que pereça um só destes pequeninos". Lamentavelmente levá-los a perecer, em todos os sentidos, tem se tornado a prática corrente em nossa sociedade. Nossa sociedade está sob risco iminente.

Fonte: http://www.renas.org.br/

Obs.: A fala de Carlos Alberto Bezerra Júnior, as palestras de Ariovaldo Ramos e Luis Bush e as entrevistas com Ariovaldo Ramos, Luis Bush, Débora Fahur, Jose Bernardo e Pr. Benedito da SBB foram disponibilizadas no portal Creio, no link abaixo

http://www.creio.com.br/2008/reporter01.asp?noticia=214

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