ESTUDO SOBRE A INCLUSÃO DAS MINORIAS
IGREJA EVANGÉLICA O BRASIL PARA CRISTO - SÃO MATEUS
RESUMO
O Projeto Missão Pastoral Urbana tem como foco a inclusão e valorização das minorias dentro do contexto pastoral. Para que a Igreja local se envolva de forma solidária, econômica, cultural e acadêmica junto a comunidade respeitando as diferenças e apontando alternativas que vise agregar valor ao homem, dando suporte psíquico e religioso no intuito de garantir, ainda que de maneira simples, mas eficaz e equilibrada o direito a vida. Trazendo uma re-leitura a sociedade do papel da Igreja como agente de mudança valorizando o ser humano e dando a ele a oportunidade de reencontrar sua trajetória de vida na sociedade. Assim queremos nesta pesquisa expor de forma concisa que a integração da Igreja junto às minorias possibilitará as transformações que se fizerem necessárias ao longo da caminhada, ressaltando que as pessoas que fizerem parte deste desafio estarão contribuindo para proclamar o Reino de Deus.
Palavras-chave: Minoria, Igreja, Missão Pastoral, Sociedade
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”
1º. Coríntios 13
“Numa sociedade global uma minoria é uma sociedade particular caracterizada por aspirar a um modo de viver próprio que a distingue do conjunto e que, de certo modo, a põe à parte. Uma minoria não está necessariamente afastada ou isolada da sociedade nacional. É por isso que nem sempre se identifica com um grupo marginal e não é necessariamente objeto de segregação. Uma minoria constitui-se como coletividade ou comunidade particular na base da raça, da língua, da religião ou de um género de vida e de cultura muito diferentes do resto do país ou conjunto. Deste modo se criam ligações afetivas e afinidades que tendem a afastar este grupo do resto da população ainda que ele se encontre disperso”.
Alain Birou
INTRODUÇÃO
Na realização desta pesquisa podemos confirmar e reconhecer a importância e contribuição de cada indivíduo na construção de estratégicas que viabilizem a inclusão das pessoas.
Em cada tópico foi interessante perceber o quanto vivemos em uma sociedade de pré-conceitos firmados, somos forçados a deixar de fora de nossa rede social às pessoas por serem “diferentes” e compartilhar de idéias que ferem nosso conceito de certo e errado e perdemos a oportunidade de mostrar a elas o que o Reino de Deus pode oferecer, deixando assim de criar vínculos e amizade duradouros e até incluí-las em nossa comunidade.
Ora este pré-conceito é fruto de nossa ignorância cultural, educacional e religiosa, ora por que não queremos ser vistos por pessoas que a sociedade relegou a segundo plano, o que torna perigoso, pois afastar os mesmos do convício da sociedade é temeroso do ponto de vista humano e social, ou seja, a situações vividas em determinadas nações por não saberem tratar suas minorias com respeito e cidadania.
Quando entendemos que como igreja podemos contribuir e minimizar a dor e sofrimento de pessoas comuns, mas que vivem a mercê da população, estamos dizendo a elas que existe um Deus de amor que enviou Seu Filho Jesus para morrer também por eles. Há casos complicados que envolvem opções sexuais que contrariam nossa fé, mas estes também sofrem o desgosto de serem expostos e abandonados por suas famílias e nosso governo pressionado por lobbys eleitoreiros acabam cedendo à troca de favores e regulamentações de leis que apesar de primeiro momento aparentar um avanço nada mais é que um regresso a uma sociedade injusta e ufanista e ao mesmo tempo tradicional.
Nesta gama de comunidades, guetos ou nichos encontramos a discriminação racial, religiosa, sexual, idade e portadores de deficiência física. Não cabe a nós julgar estas pessoas somente no âmbito religioso, mas oferecer também a elas um caminho que seja excelente no bom trato, respeito e amor ao próximo garantindo com isso um lugar mais pacífico e humano para se viver.
A luz das escrituras vamos encontrar casos de pessoas que estarão fora da vontade de Deus, mas fica uma reflexão a ser analisada e discutida, estes por assim viverem devem ser esquecidos e não terem a oportunidade de conhecerem a alegria da salvação e do convívio com as pessoas? Não seria um momento de externar a estas pessoas o amor, misericórdia e graça de Deus e quem sabe com o nosso envolvimento ganhá-las a Cristo. Só quero reforçar que Jesus ao morrer na cruz foi para pecadores como nós, logo este convite a salvação cabe a todos, sem restrição, se não nosso conceito fundamentalista poderá impedir de interagir com estas minorias que realmente precisam ser alcançadas.
Dentro deste conceito de minorias queremos avaliar a questão da exclusão no Brasil e mais precisamente em nosso bairro proporcionando as pessoas de nossa comunidade uma nova visão ou re-leitura de nossa postura como igreja local e inserir junto a ela meios que permitam a integração sócio religiosa e possa garantir a nossa vizinhança mecanismos de agregação social, cultural e espiritual.
Quebrando assim os paradigmas do preconceito religioso e impedindo o avanço da discriminação racial, gerando alternativas que capacite uma ação social que venha de encontro às necessidades de nossa comunidade e possibilite agregar valores a nós como um todo, para isso é importante trazer um conceito de “fazer acontecer” as pessoas de nossas igrejas, onde cada um poderá doar seu tempo, dons e talentos, seja ministerial ou acadêmico para formar cidadãos e reconduzir em alguns casos a vida em sociedade.
É um desafio e a cada instante o risco será iminente dentro e fora de nosso conceito de igreja, pois estamos acostumados a ir aos cultos e adorar e ser ministrados, mas nem sempre queremos compartilhar com o próximo daquilo que nos trás Esperança. No caminho muitos críticos irão aparecer e outros oportunistas vão requerer sua fatia, mas cabe a nós saber discernir com a graça de Deus e usar cada momento e oportunidade para abençoar a quem Deus nos direcionar.
CAPÍTULO I
1. EXCLUSÃO: UMA FERRAMENTA DA INTOLERANCIA
1.1. Discriminação
1.2. Conceito
Discriminação pode ser entendida como tratamento diferenciado, significa que pode ser caracterizada com atitudes de injustiça, indiferença e negatividade a pessoa ou a um grupo. Relacionado à ação preconceituosa.
1.3. Exclusão Social
Falar que no Brasil não existe mais racismo, preconceito ou discriminação. É no mínimo estranho, pois é impossível negar as diferenças sociais e econômicas sofridas pela sociedade no decorrer dos séculos.
Dentro deste conceito podemos afirmar que no Brasil a certa maquiagem por parte de todos para esconder sua indiferença com pessoas que façam parte dos pequenos grupos, a prova é que a taxa de preconceito é alta e totalmente descaracterizada de ação governamental, visto que as leis brasileiras são retrogradas ou visam atender a um número menor, sem dar ouvidos ao clamor da população em geral.
Parte desta discrepância social decorrente no país é por causa da pobreza que é vivida nos grandes centros urbanos e nas regiões menos favorecidas do nordeste brasileiro. Se junta a isso a cultura regional, raça, religião, sexualidade entre outros formando uma exclusão social que paralelamente modifica as condições socioeconômicas e históricas num grande abismo.
Segundo Rezende e Tafner (2005) uma família é considerada pobre quando a soma dos rendimentos é insuficiente, já que as necessidades básicas (alimentação, saúde, educação, habitação e transporte) são mal assistidas. Para eles, no Brasil cerca de 49 milhões de pessoas e 10 milhões de domicílios poderiam ser considerados pobres, ou seja, este volume da população tem renda inferior a meio salário mínimo, o que equivale a 29% da população total. (base ano 2002).
Talvez para compreender melhor esta situação tenhamos que recorrer a Pirâmide de Maslow para tentar visualizar melhor esta realidade brasileira, pois como podemos perceber esses dados são alarmantes o que acaba sendo mais triste é que estudos revelam que a exclusão social afeta as minorias, ou seja mulheres e negros. Em contrapartida são as mulheres que estão chefiando suas famílias, em 1993 era de 19,7% e passou para 28,8% em 2006. Dentre esses números verificou-se que na sua maioria estão vivendo de forma desumana em favelas. (IPEA – 2008).
O relatório de desenvolvimento humano 2007/2008, divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), relata que o Brasil ultrapassou a linha de desenvolvimento humano médio ao atingir o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,800 pela primeira vez. Para o pesquisador Sergei Suarez Dillon Soares, do IPEA “O Brasil não é nem um pouco desenvolvido. Alias, nem desenvolvido nem igual, em se tratando de distribuição de renda entre a população”.
Assim fica claro que a educação pode e muito melhorar o nível de vida dos brasileiros, pois a exclusão social é perceptível entre adolescentes e idosos e acentua nos grupos de mulheres e negros. Dentro deste grande desafio nacional sabe-se que o acesso a informação de qualidade também tem sido muito prejudicada, já que a exclusão digital atinge um número considerável da população. Em 1993 eram 87,4% de domicílios sem computadores e em 2006 caiu para 77,9%. Sendo que atualmente os acessos a internet pelos jovens é caracterizado pelas redes sociais e pouco a educação.
1.4. Atlas da Exclusão Social no Mundo
O relatório de excluídos no mundo é enorme, 2,14 bilhões de pessoas são atingidas pelo caos, 35,5% da população mundial vivem distribuídas entre os 60 países mais desiguais.
Somente 14,4% da população mundial possuem 52,1% do PIB, sendo assim a minoria é rica e a maioria sobrevive às mazelas da sociedade.
"O número de excluídos pode ser muito maior, já que existem diferenças nos países. Existem excluídos em países com baixa exclusão social e incluídos em países com elevada exclusão", disse o economista Marcio Pochmann, um dos organizadores do livro “A exclusão no mundo”.
No ranking mundial de exclusão social, o Brasil que é a 8ª. Economia mundial e líder na América do Sul esta em uma posição nenhum pouco confortável de 109º lugar, atrás de países como a Albânia (97º), Gana (102º) e Mongólia (106º). Vale à pena ressaltar que esta incluso aqui pobreza, desemprego, desigualdade social, alfabetização, violência doméstica e urbana, entre outros.
"O Brasil não conseguiu ainda resolver problemas da velha exclusão social e pouco está preparado para solucionar os problemas da nova exclusão social", Pochmann.
1.5. Atlas da Exclusão Social no Brasil
O Brasil tem 5507 municípios, os piores são Jordão (AC), Guarajá (AM) e Belágua (MA). Na Bahia os índices de exclusão são os maiores e os menores estão em São Caetano do Sul (SP), Águas de São Pedro (SP) e Florianópolis (SC). O estudo revelou que 25 % dos brasileiros vivem em condições precárias e 42% dos municípios com altos índices de exclusão social, apenas 200 cidades, ou seja, 3,6% possuem algum padrão de atendimento social.
Para o economista Márcio Pochmann, "a educação é a mais importante dimensão da exclusão social, pois funciona como vetor para as demais dimensões das desigualdades. Temos uma dívida secular com a nação na área da educação".
CAPÍTULO II
2. MINORIAS: UMA SUB SOCIEDADE A MERCE DA SOCIEDADE
2.1. Conceito
O conceito mais simples que podemos dar sobre minoria social, talvez seja incapaz de mensurar suas limitações, pois partindo do pressuposto que as minorias têm valores diferentes para cada caso de aplicação, culturalmente elas possuem singularidades típicas de sua região, mas unindo a isso as razões étnicas, sexualidade, religião entre outros pode-se ter uma pluralidade de idéias ou pré-conceitos que poderão ser vistos e entendidos por vários ângulos.
O fato é que as minorias são exploradas por situações distintas e por se tratar de grupos pequenos e isolados tendem a sofrer os riscos de suas escolhas individuais e coletivas diante da sociedade.
2.2. Preconceito Educacional
A desigualdade social afeta diretamente o acesso à educação no país, é fato registrado em diversos indicadores, onde os menos favorecidos são penalizados por suas condições sub-humanas, isto inclui a questão racial, impedindo ou evitando um ensino de qualidade aos estudantes e uma má formação aos professores, alia-se também o fator governamental com poucos recursos na área da educação deixando crianças em fase pré-escolar do lado de fora das salas de aula.
A educação precisa ser levada a sério no Brasil, tanto pelos educadores e políticos quanto a sociedade, pois sem um povo esclarecido no sentido de saber quais seus direitos e deveres, são pessoas passiveis de manipulação política, religiosa e viver a parte da sociedade.
São casos como estes que permitem surgir a violência em todos os parâmetros contra as minorias, expondo ao ridículo pessoas comuns e indefesas, como é o caso do bulling, ou seja, humilhar, agredir, ofender, ameaçar, intimidar, isolar, perseguir, discriminar, apelidar. Muito freqüente em escolas, o bulling tem levado a queda do rendimento escolar e as alterações emocionais e a depressão.
Ignorar tal fato é ser omisso e é crime sendo que o responsável precisa coibir tais agressões e punir os envolvidos. Já que ambos podem ter sérios distúrbios psicológicos e precisa de ajuda o quanto antes para evitar tragédias maiores.
A UNESCO tem sido uma parceira no apoio e na implementação de ações afirmativas para promover oportunidades iguais de acesso à educação de qualidade, incluindo todos os grupos da sociedade brasileira.
2.3. Preconceito Religioso
Vivemos em um estado laico, ou seja, descaracterizado das incumbências da religião, e a Constituição garante os direitos a todo cidadão de professar ou não fé em Deus, sendo um direito humano fundamental. O povo brasileiro pode ir e vir em qualquer templo religioso, mas infelizmente para alguns falar que pertencem a tal religião causa um desconforto e preconceito, para algumas pessoas que tive a curiosidade de perguntar sobre sua crença e dogmas, elas se sentiam desconfortáveis ao dizer que eram espíritas e com freqüência eram confundidas como da macumba. “Isso é constrangedor, confidenciou uma delas”. Para muitas pessoas que fazem parte de alguma religião minoritária é mais interessante dizer que são católicas ou até evangélicas, para muitas dessas pessoas, o que causa estranheza é que para elas dizer que fazem parte de tal movimento pode dar status ou até impedir que as pessoas ignorantes a fé as tenham como sendo de total desprendimento material.
Para o Arcebispo Tomasi, observador do vaticano na ONU, a comunidade cristã é a mais discriminada do mundo. “Se analisarmos a situação mundial, veremos que, de fato, os cristãos, como estão documentando várias fontes, são o grupo religioso mais discriminado; fala-se inclusive de mais de 200 milhões de cristãos, das diferentes confissões, que se encontram em situações de dificuldade, pois há estruturas legais ou culturais que levam a uma certa discriminação contra eles.”
Para especialistas da religião, a discriminação pode estar intimamente relacionada com a discriminação racial. Se a pessoa for de nacionalidade judia pode ser ridicularizada por sua crença ou raça, assim como trabalhos inferiores são oferecidos a povos hindus de castas inferiores, ou a pessoa ter um coque no cabelo ou vestimenta pode gerar algum desconforto.
Por outro lado não podemos ignorar que a religião afro, espírita, hindu, islâmica, Testemunha de Jeová, Mórmons entre outras sofrem rejeição e discriminação. Há casos de pessoas cortarem a amizade se souber que seu melhor amigo for macumbeiro, ou por medo ou por mera ignorância.
Não estou defendendo o ecumenismo como quebra de paradigma ou como sendo a melhor saída para desobstruir o impasse religioso, mas respeitar a fé alheia é um princípio de respeito, responsabilidade e ética que deve ser levado em conta.
2.4. Preconceito Sexual
A discriminação sexual tem elevado seus índices chegando ao patamar de 16% em 2007, apesar do aumento da informação contra a homofobia e violência contra mulheres a cada 48 horas, no Brasil, uma pessoa é assassinada por ser gay, lésbica, bissexual ou transgênero.
Quase dois anos após o lançamento do programa Brasil sem Homofobia, do governo federal, percebe-se violência e preconceito sexual no país. A revista Veja trouxe uma matéria de capa abordando o assunto, segundo a mesma, as pesquisas feitas pelas universidades estaduais UERJ e Unicamp revela que 95% dos jovens declaram ser gays aos 18 anos.
Na pesquisa pode perceber a aceitação do homossexualismo no Brasil, antes quase 60% eram contra e hoje o brasileiro encara com mais naturalidade. Algumas celebridades desviavam o assunto enquanto outras assumiam sem temor, nos últimos meses três ícones declararam suas opções sexuais o que tem levado alguns anônimos a sentirem segurança e saírem do armário. Dentre estes famosos, a cantora gospel Jennifer Knapp, o jogador de rúgbi galês Gareth Thomas e o cantor Rick Martin.
Quando se discute o casamento gay e a constituição de uma família por pessoas do mesmo sexo, esquece-se de tentar resolver assuntos mais urgentes, como saúde, educação, moradia, alimentação e trabalho.
Sem polarizar o assunto em torno da opção sexual, vamos nos ater a discriminação como um todo, não podemos deixar de falar das mulheres que continuam sendo vítimas de absurdos, segundo a ONU elas não atingiram a igualdade em nenhum país. Nos países desenvolvidos há mais igualdade em relação aos países em desenvolvimento.
O mundo moderno deixou para trás aquela imagem que a mulher precisava limitar sua capacidade a cuidar da casa e família, fazia parte da educação serem “adestradas” a realizar estas tarefas, mas com o tempo a independência feminina ganhou força e seu papel na sociedade atual a fez uma profissional. Esta luta possibilitou direito e deveres que anteriormente era fornecido somente a homens, como o direito a voto, ao trabalho digno, educação de qualidade entre outros, se ocorreu este avanço por outro lado a fez mergulhar nas dificuldades para obtenção de renda para sua família.
2.4.1. Prostituição
A pratica da prostituição é antiga, para os caldeus ela era hospitaleira e para os babilônicos sagrada, nem uma coisa nem outra, embora os povos do Oriente tivesse o costume de oferecer suas mulheres e filhas a estranhos e hóspedes, isso não pode ser relacionado a prostituição.
A melhor definição de prostituição é promiscuidade com fins mercantilistas, só na Grécia antiga que se tomou um rumo mais alarmante, pois lá as prostitutas eram vulgares e escravas, também conhecidas de porné, a comercialização de seu corpo era no perneion (casa de prostituição), e quem as exploravam eram os pornoboskoi. Neste universo carnal havia as mulheres que recebiam os políticos, generais, filósofos e poetas em suas casas, conhecidas por hetairas, por serem educadas, livres e famosas.
O que podemos apurar é que na época de Sócrates, Platão e Demóstenes, as leis e costumes permitiam os cidadãos possuir três mulheres: a hetaira (prazeres), a palaca (serviços domésticos) e a esposa (criação de filhos legítimos). O tempo passou e fatores históricos deixaram de ser vivenciados pelos povos e nossa cultura Ocidental é bem diferente do Oriente onde a poligamia é defendida e praticada.
Por outro lado precisamos encarar um terrível fato, a prostituição contribuiu para atender as necessidades sociais de um grupo. Se entendermos que esta pratica apareceu de uma condição nem um pouco favorável é mais fácil entender as razões pelas quais um contingente de pessoas recorre a tal “emprego”.
Com o crescimento das cidades, do comércio e da população os senhores “feudais”, donos das terras pensavam que tinham o direito de ter um harém de mulheres sem nenhum envolvimento, o que de certa forma transformava um bem comum.
Hoje em muitos países a prostituição é vista como uma profissão qualquer com carteira assinada, em países como o Brasil ela é repugnada e vista com discriminação, tornando as mulheres num objeto de prazer e desrespeitando-as como pessoas. Outro dado relevante e requer atenção das autoridades é o trafico de mulheres, infelizmente as leis são brandas e os criminosos na maioria das vezes não são punidos.
2.4.2. Tipos de Prostituição
Os caminhos trilhados por aqueles que buscam refúgio na prostituição são diversos, há casos de abandono e maus trato nos lares, fim do casamento, falta de oportunidade de trabalho, para muitos este período de se prostituir para garantir a sobrevivência é passageira, a quem acredite que algumas pessoas ganham a vida fácil e constroem riquezas com a prática, mas nem sempre é assim, como a vida de um jogador de futebol, quando a idade chega são descartados como lixo, a quem sonhe com o príncipe encantado, com o casamento dos sonhos, com o recomeço, com estudos e etc...
No Brasil não tem lei específica contra a prostituição, embora nos prostíbulos a polícia sempre apareça para impedir a prostituição infantil e o trafico de mulheres. Segundo dados do Departamento de Estado dos Estados Unidos (2010) o Brasil é fonte de homens, mulheres, crianças para a prostituição forçada no país e no exterior.
No bairro de São Mateus zona sudeste da capital de São Paulo tem várias casas de prostituição, este número é assustador em toda cidade, movimentando cifras estrondosas no mercado do sexo atraindo pessoas que antes eram vistas como “puritanas” e que freqüentam estes inferninhos a procura de diversão e prazer, sem falar nas casas de swing.
2.5. Meninos de Rua
Qual a causa real do abandono de menores pelas ruas das grandes cidades? Para cada cidadão uma resposta pouco assertiva... Na verdade cada pessoa carrega consigo uma particularidade e estes menores chamam a atenção não só de nós brasileiros como os de fora, pois eles são explorados financeiramente, moralmente e até violentados sexualmente por outros moradores de rua.
Os semáforos de nossas ruas e avenidas estão cheios deles, muitas vezes vivem a margem da sociedade e enfrentam dificuldades enormes, oriundos de famílias desestruturadas e pela violência doméstica acabam se tornando pequenos marginais em busca de um trocado para sustentar seus vícios com drogas e bebidas.
Dados estatísticos reforçam que 75% destas crianças têm famílias e outras formam as suas nas ruas, dormindo em viadutos, em jornais, e muitos se recusam a ir a abrigos por que lá são obrigados a cumprir regras.
A cidade tem este lado sombrio, às vezes pessoas saem de seus municípios para tentar a sorte nos grandes centros e não possuem qualificação profissional, sem moradia, não recebem auxilio do estado e são esquecidas pela família.
Um defensor muito conhecido é o Padre Júlio Lancellotti, ex-funcionário da FEBEM Tatuapé, seu trabalho começou nos anos 70 com portadores de HIV (AIDS), sua interação e preocupação em atender menores nessas situações o levou a criar a Casa Vida onde atende mais de 30 crianças.
Levando em consideração que uma criança morre a cada dois minutos de fome, esses dados são perceptíveis na pesquisa onde 14 milhões de pessoas convivem com a fome no Brasil e mais de 72 milhões estão em situação de insegurança alimentar, sendo assim, dois em cada cinco pessoas não tem acesso a alimentação correta (IBGE). O mesmo estudo utiliza dados da PNAD (Pesquisa Nacional Domiciliar-2004) onde crianças, negros e nordestinos sofrem com tais restrições. De 109 milhões de pessoas, 18% da população vivem em condição e Insegurança Alimentar Leve, 14,1% em Insegurança Alimentar Moderada e 7,7% passam fome pelo menos uma vez a cada 90 dias.
Em determinados locais como a Cidade de Deus, 22% das 2 mil crianças estavam desnutridas e em Alagoas, 9,5% das crianças de até 5 anos apresentaram desnutrição crônica.
Estes dados se tornam mais desumanos quando pensamos que muitas crianças são abandonadas pelos pais, fugiram de maus tratos, mortos por grupos de extermínio, algumas crianças sofrem abusos e acabam indo para prostíbulos ou em mão de traficantes.
2.6. Idosos
Há quem pense no idoso como alguém que atrapalha que traz transtornos a sociedade, alguns mais audaciosos os acusam de comer do próprio veneno, pois quando jovens ignoraram as mesmas situações.
O Ministério Público pensa que os dados a respeito dos idosos no Brasil é preocupante, pois a tendência é que em 2050 sejamos o sexto país com maior numero de idosos.
Hoje a um contingente de 14,5 milhões de pessoas idosas, sendo 8,6% da população total do Brasil (IBGE-2000). Podemos considerar idosos pessoas com mais de 60 anos, este envelhecimento é positivo, pois demonstra que a expectativa de vida avançou, tendo uma média de 68,6 anos de vida, o que surpreende é o fato destes mesmos idosos serem, em sua maioria, chefes de família.
Os pesquisadores Márcia Batista Gil Nunes, Cileia do Nascimento Silva Ramos, Mauro e Maria Yvone Chaves (2003) relatam a importância do trato na questão do idoso, à luz de um modelo que confira a este uma perspectiva cidadã, transcende aspectos puramente técnicos e políticos. Ele envolve, em relação a este grupo social, demandas e especificidades variadas, associadas às peculiaridades do "modo de ser brasileiro".
Para Souza (1998), no Brasil a responsabilidade pelo desenvolvimento social é competência de todas as esferas de governo bem como da própria sociedade, responsabilidade esta constante na Constituição Federal, promulgada em outubro de 1988, e desdobrada em leis complementares e ordinárias.
Dentre as políticas públicas que devam atingir os idosos no Brasil, elas precisam atender saúde, moradia, transporte, alimentação e acima de tudo respeito. Falta a nós jovens, desenvolver a pratica do cuidado pelas pessoas da terceira idade, precisamos dar carinho e atenção e esta classe tão sofrida e discriminada.
2.6.1. Política Nacional do Idoso
A Política Nacional do Idoso, na condição de instrumento legal e legítimo, tem como diretrizes:
I - viabilizar formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, proporcionando-lhe integração às demais gerações;
II - promover a participação e a integração do idoso, por intermédio de suas organizações representativas, na formulação implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem desenvolvidos;
III. - priorizar o atendimento ao idoso, por intermédio de suas próprias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições de garantir sua sobrevivência;
IV - descentralizar as ações político- administrativas;
V - capacitar e reciclar os recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia;
VI - implementar o sistema de informações que permita a divulgação da política, dos serviços oferecidos, dos planos e programas em cada nível de governo;
VII - estabelecer mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento;
VIII - priorizar o atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados prestadores do serviço; e, apoiar estudos e pesquisas sobre as questões do envelhecimento.
2.6.2. Medo da Solidão
Parece brincadeira, mas para muitos idosos o fato de estarem envelhecendo causam desconforto e apreensão, pois muitos vivem em condições sub-humanas dentro e fora de suas casas, acidentes domésticos poderiam ser evitados e os maus tratos impostos por pessoas da própria família são determinantes. É vergonhoso a quantidade de pessoas vivendo subnutridas, sem condições básicas de saúde e moradia e que precisam ser alcançadas, pois o desgosto tem levado muitos idosos ao álcool, as drogas, a depressão e ao suicídio.
As causas comuns para o rápido aumento de casos de suicídio entre os idosos incluem:
Isolamento social e solitária vida, o que os deixam vulneráveis e solitários. Estima-se que cinqüenta por cento dos idosos que vivem sós, tem a tendência para cometer suicídio.
Depressão (devido à morte de um cônjuge, dificuldade de adaptação às situações da vida desconhecido ou reforma de trabalho).
Deterioração das condições sanitárias, como a incapacidade permanente ou doença crônica.
Incapacidade de enfrentar e gerir crises.
Eventos estressantes da vida (como a falência, divórcio, etc) que provocam uma pessoa a tomar a medida extrema de cometer suicídio.
Diante destes dados devemos configurar nosso modo de vida e dar a nossos pais e avós um tratamento que valorize a pessoa e possa oferecer condições básicas como carinho, atenção e respeito.
2.7. Pessoas com Necessidade Especial
Nome dado a característica dos problemas que envolve cérebro e/ou sistema locomotor gerando paralisia ou mal funcionamento dos membros do corpo. A origem é oriunda de fatores genéticos, virais, neonatal ou traumático (medulares).
Pessoas nestas condições precisam ser acompanhadas seja psicologicamente ou fisioterapicamente para que saiba enfrentar seus limites e (re) aprender a desenvolver suas potencialidades.
Hoje é comum ouvir e falar sobre pessoas especiais, mas em contra partida pouco se tem feito por elas, tanto o governo quanto a comunidade em geral poderiam ter ações conjuntas mais efetivas para amparar tanto a pessoa quanto seus familiares. Para algumas pessoas mal informadas a deficiência é sinônima de doença grave e contagiosa, precisamos rever conceitos, pois em toda parte percebe-se situações de pessoas precisando de nossa ajuda, seja em ônibus, bancos, shoppings ou restaurantes entre outros que precisam se adaptar a elas, sem dizer que garantir o acesso rápido a pessoa especial é cidadania.
Precisamos reconhecer suas limitações, mas não tratá-los com indiferença ou piedade, pois a casos de pessoas que são ótimos profissionais e que levam uma vida normal, é preciso reavaliar nossa concepção em relação a deficiência física e acabar com o preconceito que paira sobre nós.
Para o Jornalista Chiko Kuneski “Esse parece ser o grande desafio: rever os "pré" conceitos e criar um novo conceito que permita ver o portador de deficiência física como um cidadão comum. Vivemos numa sociedade plural, com pessoas altas e baixas, gordas e magras, que andam e que usam cadeiras de rodas para a locomoção, e todas têm em comum o direito a um lugar na comunidade em que vivem”.
CAPÍTULO III
3. SÃO MATEUS: UMA REALIDADE QUE NÃO QUEREMOS VER
São Mateus é um bairro a sudeste do centro de São Paulo, faz divisa com a região do ABC, mais precisamente com Santo André, Mauá, e com os bairros de Sapopemba, Itaquera e Vila Formosa.
Sua população esta acima de um milhão, sendo um bairro dormitório, onde sua força de trabalho esta no comércio local, com bancos e pequenas industrias. Sua localização é privilegiada facilitando a passagem de quem vem dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais e indo para o litoral paulista.
Embora tenha grandes avanços no bairro, com linhas de ônibus para varias regiões, trólebus para o ABC e com a futura linha do metro, o bairro sofre com o transporte precário. As condições de saúde são ruins, pois possui um hospital que não atende aos anseios da comunidade. As moradias é outro agravante, empurrando os mais pobres a cortiços e favelas. È justamente em condições precárias que moram muitos que além de estar a margem da sociedade enfrenta o preconceito daqueles que pensam ser superior.
Precisa urgentemente de políticas públicas que restaure a alto estima destas pessoas e melhore suas condições de vida. Para tanto, um olhar solidário deve ir de encontro a estas necessidades básicas e possibilite condições favoráveis que promova a paz em lugar da violência que corre as ruas de São Mateus.
Neste universo tão fatídico é lamentável ver um contingente de moradores de rua, prostitutas e trombadinhas que disputam espaços com traficantes, pedir socorro para o governo parece ser quase uma utopia, mas podemos fazer mais pelas pessoas, por isso cabe a nós igreja arregaçar as mangas e propor soluções que viabilizem talvez não resgatar a todos, mas pelo menos agir com prevenção para que nossas crianças e adolescentes não fiquem a mercê de aproveitadores.
Neste estudo de campo foi levantada estatísticas que possam corroborar e fotos anexadas com o intuito de promover uma ação conjunta em favor da vida.
3.1. A História do bairro
A história de São Mateus remonta ao século XIX. Mais precisamente ao ano de 1.842, época em que existia uma fazenda de propriedade de João Francisco Rocha, onde se criavam cavalos, carneiros e bois. Posteriormente, a fazenda foi adquirida por Antônio Cardoso de Siqueira, que optou por dividi-la em 5 (cinco) glebas.
Já no século XX, na década de 40, tudo não passava de uma grande fazenda: a Fazenda Rio das Pedras. Em 1.946, uma gleba de 50 alqueires de terras foi vendida à Família Bei (Mateo e Salvador Bei), dando origem a fazenda São Mateus. Dois anos depois da aquisição das terras, em 1948, Mateo Bei, o patriarca da família, decide lotear a área e vende os primeiros lotes com total sucesso, surgindo dessa iniciativa o bairro de São Mateus. Para personalizar a importância dela, foi celebrada a primeira missa em ação de graças, no dia 8 de Dezembro do mesmo ano, pelo bispo Dom Antônio de Macedo.
"Cidade São Mateus" foi o nome escolhido por Salvador Bei, em homenagem ao pai, Mateo Bei, que mais tarde teve seu nome dado, também, à primeira avenida do bairro (atualmente, o principal ponto de referência do bairro). O termo cidade foi empregado porque todos da Família Bei tinha convicção de que o bairro um dia se transformaria em uma grande cidade.
Nildo Gregório da Silva, já falecido, foi quem iniciou o trabalho de abertura das ruas em 16 de Dezembro de 1946, às 7 horas da manhã. Foi puxando burros, que ele, então, dava à abertura da Avenida Mateo Bei, exatamente no marco "zero", na Avenida Caguaçu, mais tarde Avenida Rio das Pedras.
Em meio às recordações, Nildo Gregócio da Silva, funcionário de uma empresa e responsável pela terraplanagem da Avenida, conta como tudo aconteceu: "Naquela época, eu morava em São Miguel Paulista e a minha empresa foi contratada por Mateo Bei para fazer o serviço. Não medimos esforços e sob o sol que despontava, demos início às obras, num clima de euforia e dedicação."
Mas Nildo continuava a residindo em São Miguel. Para chegar em São Mateus às 8 horas, tinha que sair de casa às 3 horas da madrugada, tomar três conduções e ainda andar cerca de 12 quilômetros a pé até o Largo Carrão para pegar outro ônibus. Essa via-sacra durou três anos, quando apareceu um pau-de-arara, muito comuns na época, fazendo lotação. Ele trabalhou durante anos na abertura das ruas e, em pouco tempo, assumiu a identidade de um defensor do bairro.
Foi Nildo Gregório da Silva quem fundo em 1952, a Associação Divulgadora "A Voz da Colina", um instrumento para as reivindicações de melhorias da região em diversos setores: transportes, educação, saúde e lazer. "Entra no ar a nossa divulgadora A Voz da Colina, uma voz amiga que cruza os céus de Piratininga". Esse prefixo ficou na história de São Mateus.
Mateo Bei foi, também, um lutador incansável que se dedicou à formação cultural e sócio-econômica de São Mateus. Foram muitos anos de perseverança e fé. E, em agradecimento a tudo que fez por São Mateus, seu nome foi dado a uma praça, situado no inicio da Avenida Mateo Bei.
Vindo a velhice, seus descendentes continuaram a trilhar pelo caminho que lhes ensinara o tenaz batalhador, da propriedade que a todos honra. Algum tempo depois os filhos e o genro adquiriram para mais de um milhão de metros quadrados, na antiga "Fazenda do Oratório" em homenagem ao respeito e às lições deixadas pelo ente querido; lotearam-na, fazendo da gleba uma verdadeira comunidade - que culminou em mais do que isso: um bairro-cidade.
Deixando um legado de lutas e conquistas como herança aos familiares e aos moradores de São Mateus, Mateo Bei faleceu em 11 de maio de 1956.
Esforço e dedicação sempre estiveram presentes na História da Cidade de São Mateus. Um bairro que nasceu e cresceu através das lutas populares. Aqui, pessoas de credos, raças e tendências políticas, das mais diversas, se reuniram num só objetivo: Transformar este lugar da Zona Leste da Capital num bairro de fato.
Assim, era chegada a hora do comércio ocupar seu espaço e dar um novo impulso ao recente bairro. O primeiro ponto comercial do bairro surgiu em 1949, o Empório do Eustáquio, seguido pelo Empório do Maninho no ano seguinte.
Os lotes da Avenida Mateo Bei valorizavam a cada dia (o valor de um lote de 350 m² custava 7.500 cruzeiros) e a solidariedade foi o fator básico para o crescimento de São Mateus. A Loteadora Bei Filho doava 500 telhas e dois mil tijolos aos novos proprietários (material este transportado das olarias em carros-de-boi), que, através de mutirões, levantavam suas casas.
Tudo era muito difícil naquela época, principalmente o transporte. Como não havia empregos no bairro, os moradores tinham de se deslocar para o centro ou então para os outros bairros. No início a Jardineira do Manoel, ou pau de arara, era o único meio de transporte e levava os moradores até o Largo do Carrão.
Em 1950 dois ônibus começaram a fazer o itinerário até a Avenida João XXIII. O percurso era longo e as ruas cheias de buracos e poeira. Os passageiros tinham que dividir o espaço com galinhas e outros animais, além das tranqueiras que eram transportadas. Em dias de chuva, era impossível realizar todo o percurso, sendo necessárias várias baldeações.
Foi somente em 1952 que a primeira linha de ônibus coletivo passou a funcionar (através da Empresa Cometa) indo até a Avenida Sapopemba. Depois veio a empresa de ônibus Vila Carrão. Outras empresas se instalaram no bairro nas décadas de 70 e 80, contudo, até os dias de hoje o transporte é um dos principais problemas do bairro.
Foi na década de 50 que os moradores se organizaram para pedir melhorias. Primeiro pediram escolas, iluminação e transporte. Depois, a luta foi pela implantação do asfalto, redes de água e esgoto, iluminação pública e outros serviços, como delegacias e agência dos Correios.
A construção de uma escola para São Mateus foi uma luta árdua dos moradores, pois a escola mais próxima distanciava sete quilômetros, entre Vila Nova Iorque e Vila Antonieta. A maioria das crianças ia a pé, porque não dispunha de dinheiro para pegar condução. Segundo constam os historiadores, em 1952, o estupro de uma criança de dez anos foi à gota d'água para que outra luta começasse. Somente em 1955, a Secretaria da Educação e Cultura construiu um galpão de madeira. Era a primeira escola de São Mateus que nascia.
Os problemas cresciam e a comunidade teria que ser mais rápida. Outro fato que merece registro diz respeito à fundação da paróquia - da Igreja Católica - que data de 1958.
Bairro que tem uma história de lutas: São Mateus tem a oferecer a seus moradores uma perspectiva de desenvolvimento que foge à estagnação econômica e ao pessimismo de alguns. São Mateus, até pelos exemplos de seu fundador Mateo Bei, não tem decepcionado aos que aqui investem - os que lutam em seu dia-a-dia, com perseverança e dinamismo, estão aí, no comércio, nos negócios e na vida cotidiana, colhendo os frutos.
Hoje São Mateus tem praticamente tudo: bancos, comércio diversificado, indústrias e setores de prestação de serviços. Recentemente, a briga foi pela implantação de um Cartório de Registro Civil, vitória esta conquistada com sua inauguração em 05/06/2000. Agora, a comunidade se esforça para organizar um movimento pela implantação de um Fórum: mais uma luta em prol do desenvolvimento.
3.2. Dados Oficiais
Distritos Área (km²) População (1996) População (2000) População (2008) Densidade Demográfica (Hab/km²)
São Mateus 12.83 153,377 154,839 158,828 12,382. 17
3.3. Um olhar diferente na história
O bairro é carente de investimento por parte do governo municipal e esta em déficit com sua população que cresce a cada ano, muitos oriundos do norte e nordeste do Brasil, tentando uma “sorte” na cidade grande, acabam vivendo marginalizados.
A um mix entre residência e comércio, sendo este último bem desenvolvido e tendo na Avenida Mateo Bei, a grande concentração de lojas, onde tem sido um refugio para aqueles que procuram empregos perto de casa. Seu número de comércios em garagens e residências é assustador, o que tem levado muitos ao emprego informal, com mercadorias “made in” Paraguai e China.
Na habitação a vários tipos de moradia que atendem de forma sub-humana seus moradores: favelas, cortiços, casas, prédios e até pequenas mansões. No Bairro há várias escolas públicas e particulares, postos de saúde, um Hospital, Emei’s e outras creches, mas ainda não atendem a totalidade da demanda, tornando-se um bairro muito carente.
A cultura no bairro é outro fator desestimulador, não há bibliotecas, teatro, cinema, enfim para a população não há opções. Para muitos é considerado um bairro pobre, apresentando um elevado crescimento populacional. É considerado também um bairro dormitório, pois está longe do centro da cidade, e muitos moradores gastam grande parte de seu tempo para ir e vir.
Os meios de transportes existentes no bairro também são precários. Embora as promessas para os próximos anos sejam de uma linha de Metro passando pela praça principal.
Segundo os dados de uma pesquisa realizada pelo Fórum da Criança e do Adolescente de São Mateus em abril de 1.998, ou seja, há doze anos demonstram que a demanda maior é para crianças de 0 (zero) a 1 ano (937 crianças) e de 1 a 2 anos (1.028 crianças), somando as duas um total de 1.965 crianças no período pesquisado. Já na faixa etária de 2 a 3 anos tem uma procura de 813 crianças e de 3 a 4 539 crianças, perfazendo um total de 3.320 crianças aguardando vaga. Estes números não expressam a realidade da demanda com exatidão, uma vez que muitas famílias nem chegam a procurar a creche. No entanto, as vagas oferecidas não atendem esta demanda, sendo 1,265 o número de matriculas realizado neste período, nossa realidade hoje (2010) não esta muito diferente, pois as mães ficam em filas de espera em creches e escolas para deixar seus filhos.
Os dados oficiais e extraoficiais apontam para uma população em torno de 1.000.000.000,00, bem alto para a capacidade da região e chega a ser maior do que muitos municípios brasileiros.
Crescimento rápido e desordenado, São Mateus registra oficialmente 78 bairros e 35 favelas, segundo dados da Prefeitura, de 1996.
A clientela atendida atinge uma faixa de renda familiar baixa, ou mesmo sem nenhuma renda. As crianças atendidas são em sua maioria filhos de mães solteiras ou separadas, com a situação civil totalmente desregulada.
Há muitos pais/mães desempregados e que procuram a creche no intuito de alimentar seus filhos. Entre os que trabalham estão às diaristas, empregadas domésticas, camelôs, ajudante de pedreiro, etc.
Muitos pais ou mesmo mães são envolvidos com o tráfico e com o consumo de drogas, o que gera muita violência na família, ocorrendo às vezes assassinato de pessoas da mesma, sendo muitas vezes na presença das crianças.
Em sua grande maioria as famílias são analfabetas ou semi-analfabetas, o que dificulta o vínculo empregatício.
3.4. Quem é o seu próximo?
Vivemos décadas discursando e planejando ações que possam dar alguma assistência a nossa comunidade, mas pouco se faz, ou melhor, nada fazemos para mudar este quadro que assola nossas vidas.
É claro que se investíssemos nossas vidas, tempo, dinheiro em pesquisas de campo chegaríamos a números assustadores, mas se sairmos de nosso status quo e enxergarmos ao nosso redor, será perceptível a miséria que pessoas tão próximas de nós enfrentam a cada dia.
Você sabia que o Bairro de São Mateus, mais precisamente na Avenida principal tem três pontos de prostituição funcionando a todo vapor, com mais dois próximos a Avenida Satélite e outros dois em frente ao Terminal São Mateus e um na Ragueb Chofti próximo ao Colonial? Quantas garotas de programa estão ali escondidas de suas famílias e vivem a mercê da exploração sexual?
A Avenida Mateo Bei é palco de moradores de rua que se escondem do frio debaixo das coberturas de lojas, muitos se drogando, passando frio e fome, são pelo menos oito pontos que eles se ajuntam numa espécie de comunidade de excluídos e fazem suas próprias regras de sobrevivência, apesar de ter na mesma avenida um abrigo apto para que passem a noite.
Se andarmos pelas ruas do bairro, se conversarmos com nossos vizinhos vamos nos deparar com esta realidade nada acolhedora, são vidas que vivem em suas mazelas de dor e sofrimento e que estão a espera de um milagre, muitos correm para a religião como fuga de suas neuras, e estas aprisionam suas “vitimas” com falsas promessas, o pior que dentre estas estão igrejas ditas evangélicas e que persistem em atrair pessoas com olho no se potencial financeiro.
Esta triste realidade afasta muitas vidas de igrejas sérias e comprometidas com Jesus e sua Palavra, enquanto a igreja se cala por não saber o que fazer, ou na pior da hipótese sabe, mas por que a salvação é por fé e não por obras se esquecem de abençoar a outros, nisto entra grupos organizados que penetram estas mazelas e atrai novos adeptos, entre estes o Islã que mais cresce e assusta governos e entidades do mundo inteiro.
Outro fator polêmico que rodeou os muros da igreja é a política, não temos que ceder aos apelos de candidatos sem nenhuma postura ética, mas precisamos rever posições para ter políticas públicas que possa dar as pessoas o acesso a saúde, habitação, emprego e renda, transporte e etc. É claro que a igreja não tem condições de oferecer estas ferramentas até porque isto cabe ao poder público. Mas podemos ser agentes de mudança para os carentes oferecendo os poucos recursos que temos se juntarmos esforços e voluntários se manifestarem com o propósito de alcançar seu próximo, poderemos não atender a todos, mas os poucos que forem beneficiados serão agradecidos por experimentarem da extensão do braço de Cristo.
E mesmo que não tenhamos ferramentas para viabilizar nenhum projeto concreto, mas se agirmos como promotores da fé e da esperança e objetivarmos a prevenção para crianças e adolescentes já teremos um grande feito.
Por isso, vale refletir sobre o que estamos fazendo para ajudar a quem precisa e que estão próximos de nós, nas ruas, nas vielas, nos cortiços e favelas de nosso bairro há pessoas sendo vítimas de preconceito racial, violência doméstica, pedófilos e estupradores, drogados, entre outros.
3.5. Estatísticas
É difícil mensurar em números a quantidade exata de moradores de rua, viciados, pessoas com necessidades especiais, viciados em álcool ou drogas, entre outros, mas dentro deste contingente vamos abordar dados que possam ilustrar de forma sensata.
3.5.1. Pessoas com Necessidades Especiais
Dados oficiais do último Censo 2000 nos dá uma clara noção do contingente populacional com deficiência, cerca de 14,5%, ou seja, 24,5 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência física, sendo que só em São Paulo 11,35%, estes números não são muito bem apresentados já que a pesquisa é feita por amostragem, mas calcula-se que estes dados possam ser maiores.
Pessoas nestas condições sofrem algum tipo de discriminação, e em casos específicos estão fora de algum tipo de auxilio governamental. Nosso bairro as calçadas são de má qualidade, os acessos são ruins em locais públicos e privados, e quando existem não são respeitados pelos demais cidadãos, falta ética e respeito às pessoas nestas condições.
3.5.2. Doenças Sexualmente Transmissíveis
São assustadores os números referente a doenças sexualmente transmissíveis em adolescentes no Brasil, dados recentes apontam altos índices, embora oficialmente poucos casos são notificados. Segundo as pesquisas as infecções sexuais com sífilis e AIDS estejam corretas, sendo que 70% das pessoas procurem tratamento em farmácias.
Para o Ministério da Saúde (2007) a ocorrência de HPV (Papiloma vírus humano) e herpes genital com índices de 25% e 17% respectivamente, levando em conta a idade de 10 a 24 anos.
Outro fator importante devido à ocorrência de AIDS entre adolescentes se faz com base em números estatísticos de 2003, segundo a Coordenação Nacional de DST/AIDS, foi diagnosticado um total de 9.762 novos casos de AIDS, sendo 7.2% deles entre jovens homens de 13 a 24 anos de idade e 11,3% entre jovens mulheres na mesma faixa etária, fazendo deste grupo feminino mais vulnerável a infecção.
Nosso bairro conta com uma unidade que atende pessoas nestas condições, garantindo o sigilo total, mas precisamos reverter este quadro, já que o numero de adolescentes grávidas e infectadas são enormes, e falta políticas públicas abrangentes, conversas entre pais e filhos e orientação sexual em escolas e igrejas. Há um tabu que precisa ser quebrado para levar informação correta as pessoas, pois quando não se aprende corretamente corre o risco de aprender com amigos ou desconhecidos que queiram passar informações erradas, colocando em risco a saúde do individuo.
CTA São Mateus: Avenida Mateo Bei, 838 – São Mateus
CEP: 03949-000 Telefone: 2919-0697/20117077
E-mail: ctasmateus@hotmail.com
Horário Atendimento: Segunda a Sexta das 08 às 19 horas.
Oferece: Teste Rápido, Teste Convencional (HIV, Sífilis, Hepatite B e C), Consultas, Orientações de Prevenção.
Obs: A gravidez não planejada e conseqüentemente indesejada, pode conduzir ao aborto e comprometer a saúde física, emocional e psicológica, dados oficiais do Ministério da Saúde aponta que as internações por gravidez, parto e puerpério correspondem a 37% das internações entre mulheres de 10 a 19 anos, no SUS.
3.5.3. Morador de rua
O IBGE não contabiliza os moradores de rua, mas segundo a FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) revelou que e existem cerca de 18000 moradores de rua em São Paulo, destes 84% são homens com faixa etária média de 40 anos e o percentual de negros é maior.
Só para ter uma idéia do avanço desta população, o primeiro registro em 2000, consta de 8088 moradores, sendo que 4395 passavam as noites na rua e 3693 em albergues. A segunda amostragem feita em 2003 constatou 10399 pessoas, sendo que 4213 dormiam nas ruas e 6186 em albergues. Já no ano de 2005 o numero de desabrigados já estava por volta de 13000.
São Mateus conta com um albergue na Avenida Mateo Bei, próximo do hospital, mas nem todos querem ir para lá, por preferirem ficar alcoolizados e drogados, correndo riscos de serem vitimas de vândalos. Nesta mesma avenida há pelo menos 10 pontos onde os moradores se escondem do frio e da chuva, e durante o dia perambulam pelas ruas.
Uma maioria significativa concentra-se no centro da cidade, e boa parte busca sua sobrevivência como catador de recicláveis.
3.5.4. Prostituição
Dados colhidos por ONGs constam que 50 mil meninas estão sendo prostituidas no Brasil, perdendo somente para a Tailândia. Em algumas regiões crianças com idade igual ou superior a 6 anos já vivenciam tais praticas absurdas.
Em São Paulo, pelo menos 500 mil crianças e adolescentes são vitimas de violência dentro de sua própria casa todos os anos, sem que os responsáveis sejam punidos. 40 mil menores sofrem algum tipo de abuso sexual todos os anos: 80% são meninas, das quais 65% são violentadas pelos próprios pais, padrastos ou responsáveis, portanto conhecem seu agressor. Para 68% dos meninos o agressor é desconhecido.
Estatísticas revelam que 75% dos pais agressores confessaram ter sido também vitimas de violência na infância.
Estes dados são mais estarrecedores quando se percebe que das crianças que optam pelas ruas como fuga dos abusos no lar, 9% se vicia em drogas e 3% acabam cometendo delitos graves. Só na cidade de São Paulo, menores são responsáveis por 1,2 mil assaltos por mês, e mais de 26 mil já teriam envolvimento em crimes.
Nestes dados vale a pena ressaltar que 80% das meninas-mãe são vitimas de exploração sexual dentro de casa, e um percentual próximo a 60% de crianças e adolescentes com idade entre 10 e 19 anos na prostituição.
Como já mencionado São Mateus tem pelo menos 6 pontos de prostituição, estas casas são gerenciadas por pessoas ligadas ao narcotráfico que exploram suas “meninas”. Muitas destas garotas são oriundas de estados nordestinos, vivem em estado de pobreza e precisam sustentar suas famílias.
3.5.5. Favelas
Estima-se que São Paulo tem 2018 favelas, com um total de 1,16 milhão de habitantes vivendo em condições precárias, 45% das crianças internadas estão com diagnostico de pneumonia infantil. Nestas áreas concentra-se a maior parte da população idosa.
Em São Mateus a algumas áreas bem próximas a avenida principal, sendo que por causa do alto índice de assalto nas ruas adjacentes de pedestres ou veículos, faz com que estas pessoas sejam marginalizadas. A uma associação penosa para eles que pobres são pessoas de má índole, já se não bastasse sua busca pela sobrevivência contra falta de habitação, saúde, transporte, escola, cultura e laser, vivem a beira de rios e córregos sem nenhum tratamento adequado.
Bem próximo de nós há pelo menos 5 comunidades carentes, sendo duas delas bem próximo de nós, a do Colonial e São Mateus, sendo esta última porta de entrada para drogas pesadas no Brasil, como o crack. Para eles nós O Brasil Para Cristo somos a igreja do castelinho.
3.5.6. Idosos
Dados recentes apontam para o envelhecimento da população brasileira, um estudo revela que 24,8% não recebem aposentadoria ou pensão, 43,6% não tem nenhuma atividade de integração social, 46,7% precisam de ajuda de terceiros para realizar atividades rotineiras, 74,9% são portadores de uma das cinco doenças crônicas não transmissíveis.
Pesquisa feita pela UNIFESP/EPM aponta que de 45 idosos com Doença de Alzheimer em São Paulo, 72,4% são mulheres, com média etárias de 79,17 anos, 62,1% com renda mensal inferior a três salários mínimos, 62,1% tiveram até quatro anos de estudo e 48,3% eram viúvos.
A escolaridade dos mais velhos é algo intrigante, pois 44% só têm ensino fundamental incompleto, 30% são analfabetos, 16% são alfabetizados já adultos, 7% ensino fundamental completo e somente 2% com ensino superior completo.
3.5.7. Religião
É notório o crescimento de evangélicos no País, a qualidade é que podemos questionar segundo dados de última amostragem sobre o avanço da fé, na cidade de São Paulo, apontou que em média, um novo templo é erguido, estimativas dizem que são um local de aberto para cada 3.000 moradores da cidade.
A diversidade em todos os nichos inclusive na fé, entre as igrejas, há locais que abrigam punks, gays, judeus, católicos, evangélicos e mórmons .
A Avenida Celso Garcia é conhecida como “avenida da fé”, pelo menos oito templos com credos diferentes foram abertos quase que vizinhos uns dos outros, apesar de vivermos em um país laico, todos exercem um profissão de fé com liberdade.
Os números deste crescimento são visível, 68% dos paulistanos se dizem católicos (IBGE/2000), 12% são evangélicos, 9% não tem crença. Um levantamento feito pela PUC constata que há três ramos evangélicos na cidade, Assembléia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e Igreja Universal do Reino de Deus.
Batistas são 1,5%, adventistas 0,7%, na capital há cerca de 40.000 judeus, que correspondem a 0,25%, e espíritas chega a 370.000 algo em torno de 2,4% de habitantes.
Só para constar neste estudo, do centro a zona oeste da cidade (Jardins, Pinheiros, Mooca, Ipiranga) são 82% de católicos e 5% evangélicos, na zona leste (Guaianazez, Tiradentes) 40% católicos e 30% evangélicos.
Para o Cientista Cesar Romero as áreas nobres da cidade pouco foram afetadas pela onda pentecostal, ficando para áreas mais pobres, os grupos de judeus também se concentram em locais ricos e os espíritas se espalham pelos bairros a sudoeste e nordeste da capital.
São Mateus é um dos bairros pobres de São Paulo onde se concentra o maior numero de igrejas abertas, cada uma com sua liturgia, mas pouca ação efetiva na assistência social da comunidade, falta preparo para comunicar e envolver-se com elas, quando esta comunicação existe é para reforçar a fé, quando muitas pessoas estão em estado de sobre-vida, passando por problemas mentais, físicos e estruturais, e muitas culpam a religião, o governo e Deus por suas mazelas.
Uma aproximação com estas pessoas poderia estreitar caminhos, não só para ingressar, evangelizando-as e discipulando-as, mas dando a elas a dignidade e o respeito como pessoas, que vivem a mercê da sociedade.
CAPÍTULO IV
4. A IGREJA COMO EXTENÇÃO DO BRAÇO DE CRISTO
Refletindo sobre os diversos grupos existentes na sociedade e suas limitações oriundas do abandono doméstico e governamental, a igreja passa a ter um papel fundamental na formação de pessoas mais conscientes, isto irá proporcionar um ganho não só na igreja local, mas em torno da comunidade.
Para tanto é possível alinhar os conhecimentos seculares e religiosos e convergir isso em ação prática e solidária, permitindo assistir as pessoas em suas misérias e sendo a extensão do braço de Jesus, de modo a garantir qualidade de vida dentro e fora da religião.
É preciso esclarecer alguns pontos cruciais nesta empreitada. Primeiro traçar a missão que a igreja que assiste aos necessitados devem ter, segundo projetar um foco tendo uma visão estratégica e onde quer chegar, terceiro criar um plano de ação que viabilize esta assistência e de ferramentas a estes grupos.
4.1. Missão
Treinar e desenvolver talentos que possam contribuir em uma rede de ação social junto aos domésticos da fé e a comunidade que esta inserida, criando um ambiente saudável e acolhedor.
4.2. Visão
Formar uma rede de mobilização social que interage entre si em pró do Reino de Deus, onde o amor, a compreensão, a comunhão e a esperança sejam perceptíveis não em palavras, mas em ação onde possamos tornar Jesus referencia em nossas vidas.
4.3. Plano
Ter uma equipe criativa e sensibilizada com a causa do próximo. Para isso algumas ferramentas poderão ser inseridas para facilitar o andamento do projeto.
4.4. Projeto
Capacitar pessoas disponibilizando ferramentas e oferecendo suporte que venha despertar e integrar os membros da igreja local em ações de diaconia integral dentro e fora do templo.
Cada pessoa será um agente de mobilização social, contribuindo com seus conhecimentos, habilidades para expansão do Reino e contribuindo para a comunhão.
4.4.1. Banco de dados
Criar um banco de dados que possibilite assistir as pessoas em suas necessidades (alimentação, roupas, higiene pessoal);
4.4.2. Comunidade
Buscar profissionais que atendam voluntariamente a comunidade, doando seu tempo e talentos a favor do próximo, o objetivo é assistir as pessoas, mas quando possível levar a elas um evangelho pratico.
4.4.3. Envolver a Igreja
Ter como pano de fundo as pessoas da igreja que queiram e possam contribuir com seus talentos, é importante salientar que toda ajuda é bem vinda, integrar no mesmo projeto crianças, jovens e adultos.
4.4.4. Disponibilizar o templo para ações comunitárias
Será neste momento o passo mais importante para que o projeto tenha sustentabilidade, pois além de contar com o apoio de pessoas, um local que possa ser o ponto de partida para arrecadar doações e ser o núcleo para que estas ações solidarias tome corpo.
É imprescindível ter uma equipe criativa e atuante e incentivar o brainstorm como fonte de idéias que poderão ou não ser seguidas.
Algumas ações já podem ser efetivadas, para isso precisa ser encabeçadas e lideradas por pessoas dispostas a servir no reino em favor das pessoas.
Só para entender melhor, vale a pena lembrar a Campanha do Agasalho como uma destas ações que surgiram como idéia e que foi colocada em pratica em algum momento e resultou na participação dos membros de maneira efetiva e alcançou pessoas que não são participes de nossos encontros.
4.5. Sugestões de ações participativas
4.5.1. Alfabetização:
Cursos de Alfabetização para jovens e adultos:
Usar nosso capital humano (pedagoga) para lecionar
Publico alvo: Igreja local e comunidade
4.5.2. Informática:
Curso básico de Informática:
Usar nosso capital humano (Gestor TI) para lecionar
Público alvo: Igreja local e comunidade
4.5.3. Recolocação Profissional:
Usar nosso capital humano (Gestor RH) para auxiliar na confecção de currículo, entrevista e auxiliar na indicação de agências de recursos humanos.
Público alvo: Desempregados Igreja local e comunidade
4.5.4. Biblioteca:
Disponibilizar uma sala para montar uma biblioteca
Público alvo: Igreja local
4.5.5. Palestras:
Assuntos pertinentes a comunidade, exemplos médicos especialistas, enfermeiros para ensinar cuidados de primeiros socorros, terceira idade, noções de brigada de incêndio, prevenção contra drogas, entre outros...
Publico alvo: Igreja local e comunidade
4.5.6. Evangelismo e Discipulado:
Evangelismo: Ter ação localizada em casas e na rua
Discipulado: As pessoas que forem evangelizadas, aceitando ou não a Jesus, mas que queiram ser acompanhadas e estudar a bíblia.
Publico alvo: As minorias que relatamos na pesquisa
4.5.7. Outras ações:
Cabeleireiro, Sopão, entre outros...
CONCLUSÃO
Por um bom tempo a igreja evangélica no Brasil tinha uma proposta muito simplória no que diz respeito a sua atuação junto à comunidade, basicamente o evangelismo funcionava de forma tradicional, onde a pessoa era abordada com folhetos ou em cultos ao ar livre, com o passar dos anos até esta prática caiu em (des) uso deixando com que o perdido ficasse desassistido de alguma maneira.
Sem nenhuma pretensão, entendo que só falar às pessoas que Jesus salva, cura, liberta é pouco, vivemos um evangelho de várias facetas, com algumas teologias estranhas que ronda o meio cristão. Em contrapartida a igreja não tem sido uma voz profética em meio à sociedade e por vezes se gaba em estar crescendo em números, mas a qualidade é muito inferior em relação ao potencial que existe dentro das igrejas.
Para tanto creio que é possível aliar em seu modo operante uma política pública que venha estabelecer metas claras para diminuir a discriminação e o preconceito a minorias que precisam de nossa atenção. É claro que alguns destes pequenos grupos andam longe do propósito de Deus, mas nós como igreja precisamos atender, dentro de nossas limitações e ser como o “bom samaritano” e auxiliar esta gente em suas mazelas e ser uma fonte de ajuda aos necessitados, esquecidos pela sociedade e marginalizados pelas próprias famílias.
Em nossa pesquisa procuramos desvendar a complexidade que se esconde atrás de uma nuvem densa e trazer de forma clara e objetiva os parâmetros que possam contribuir na execução de tarefas e mostrar que as pessoas continuam sendo o maior bem de qualquer instituição.
Nesta empreitada percebemos que estes grupos tentam se comunicar de diversas formas e boa parte usando seus corpos para chamar a atenção, isto acaba sendo tão triste, pois o que era para ser templo do Espírito Santo tornou-se lugar para desejos ardentes.
A sugestão é de um projeto simples, mas com ação efetiva na vida das pessoas, pois em alguns casos não poderemos fazer muita coisa, já estão totalmente envolvidos em suas práticas de vida, mas tendo uma ação preventiva que impossibilite que a médio e longo prazo, os números de crianças de rua não seja alvo fácil de traficantes e pedófilos, os idosos não sejam mal tratados, nossos adolescentes não sejam influenciados pela mídia e se achem no direito de ter opção sexual, entre outros.
Contribuir para valorizar o capital humano com políticas que realmente permita as pessoas alcançadas ter opção na vida em ser dignas e reconhecidas pelo seu talento e possam no futuro ser co-participantes e agentes de mudança no local que residem. Neste projeto a proposta é criar ações que viabilize ferramentas que possam ser disponibilizadas em treinamento e capacitação, não só em termos técnicos, mas tentando inserir nas pessoas ações educativas que facilitem integrá-las na sociedade, oferecendo dignidade, companheirismo e solidariedade.
Concluímos que o ser humano tem direito e deveres, quando propomos ações de prevenção tem como foco evitar que falte a ele oportunidades de trabalho, moradia, alimentação e vestimentas, como igreja residente em um bairro onde a maioria é pobre pouco podemos fazer, mas se pudermos abrir mão de nosso tempo e doar nosso talento e recursos materiais e intelectuais, quem sabe poderemos alcançar alguns que possam no futuro nos dar a alegria de vê-los prontos para a vida.
REFERENCIA
CARDOSO, Maria Lúcia de Macedo. PANUT: Avaliação Nutricional de Crianças de 0 a 5 anos na Cidade de Deus/ RJ. Rio de Janeiro, 2009.
REZENDE, Fernando e TAFNER, Paulo. Brasil – o estado de uma nação. Brasília: Ed. IPEA, 2005.
SOUZA, E. B. Gestão Municipal e Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Comunidade Solidaria. Brasília, 1998.
BARZAGLI, Sabrina Gabriela Nicolau. Pedofilia No Brasil. 2009.
Direito do Idoso. Estudo das políticas de proteção as pessoas da terceira idade no Brasil.
Jornada Cristã. Panorama da perseguição aos cristãos no mundo.
KUNESKI, Chiko. A Hora de Rever “Pré-Conceitos”.
LEITÃO, José. Atlas da Exclusão no Brasil. Ministério da Educação. 2009.
MAXI IN, Revista. No. 36. 2005.
RIBEIRO, Marcelo. O crack em São Paulo: histórico e perspectivas. Revista Debates, Ed. 3. Associação Brasileira de Psiquiatria.
UNESCO. Educação Inclusiva no Brasil.
Artigonal.
Antropologia.
Eumed. Net.
Folha Online.
IBISS.
Prefeitura.
TERRA.
Wikipédia.
ANEXOS
1. PIRÂMIDE DE MASLOW
Para que possamos entender um pouco das ações que envolvem a psique do homem queremos refletir sobre as necessidades básicas que cercam e permeiam suas vidas como um todo. Na concepção de Abraham Maslow. (1908/1970). Psicólogo americano, todo homem tem algumas carências que precisam ser providas para sua autoafirmação e o leve a um patamar de dignidade e respeito na sociedade.
Para isso ele traçou alguns tópicos e os inseriu numa pirâmide para melhor visibilidade.
1.1. Necessidade fisiológica
Podemos definir como necessidades fisiológicas a requisitos para a sobrevivência do indivíduo ou da sua espécie. Tais como: Alimentação, respiração, reprodução (sexo), descanso, moradia, vestimentas.
1.2. Necessidades de Segurança
Em relação as necessidades de segurança referimos à estabilidade ou manutenção do que se tem. Tais como: Segurança física, financeira, saúde e bem estar, proteção contra imprevistos.
1.3. Necessidades de Associação
Depois que as necessidades fisiológicas e de segurança são atendidas, logo em seguida vem a necessidade de associação, que se referem às necessidades do indivíduo em termos sociais, ou seja, amizade, intimidade, convivência social, família e organizações (clube, igreja, empresa).
1.4. Necessidades de Estima
Em seguida vem a necessidade de estima, ou de ser respeitado em busca de autoestima e auto-respeito. A estima é um desejo humano de ser aceito e valorizado por si e pelos outros. Note que neste caso não é apenas a busca de uma aceitação de um grupo e sim do reconhecimento pessoal e do grupo da sua contribuição e importância dentro dele. O contrario disto é a baixa estima e o complexo de inferioridade.
1.5. Necessidade de Auto-Realização
Aqui podemos entender como o último passo da pirâmide de Maslow onde as pessoas buscam realização própria, explorando suas possibilidades.
Na metodologia de Maslow, embora contestada por alguns, a ausência destes elementos torna as pessoas suscetíveis à solidão, ansiedade e depressão. Para os especialistas a outra necessidade, pouco falada, mas muito intensa na vida das pessoas, a necessidade espiritual.
2. PEDOFILIA
Outro dado alarmante em nossos dias, mas que deve ser compreendido como sendo uma pratica antiga, é a pedofilia, para os estudiosos é um desvio de personalidade onde uma pessoa maior de 16 anos tem preferências sexuais por crianças menores de 13 anos.
Os levantamentos feitos nos últimos anos no Brasil revelam que o perfil do pedófilo é quase sempre de alguém próximo a vitima, e apesar do rigor da lei e da campanha contra esta pratica o numero vem aumentando de forma assustadora.
Para os pesquisadores a internet facilitou este avanço através de site de relacionamentos, pois lá o pedófilo pode “pesquisar” o perfil que lhe interessa e não se identificar. Além se sites especializados em sexo adulto para troca de vídeos e fotos de menores.
O que mais assusta é que a um movimento em pró da pedofilia, estes ativistas alegam que a prática não é uma doença e sim uma orientação sexual e precisa ser reconhecido pela comunidade.
O Brasil ocupa a infeliz quarta colocação no ranking mundial de sites de pornografia infantil, segundo dados da Associação Italiana para a Defesa da Infância, uma reportagem da revista Isto é mostrou que a pedofilia movimentou 5 bilhões de dólares em todo mundo em 2000, subindo para 10 bi em 2005.
Apesar das investidas do Ministério Público e das reformulações na lei, a uma busca incessante contra este crime, o que precisa é regulamentar as leis de crime digital que possa garantir os direitos privados das pessoas.
Para especialistas o avanço da internet facilitou que adultos pudessem dar asas a suas imaginações interagindo com pessoas com desvios éticos, morais e patológicos.
Algo interessante que precisa ser ressaltado é que mesmo sem o ato sexual já é considerado pedofilia e este transtorno psíquico não diminui em nada a responsabilidade da pessoa em seus atos.
Dentro desta visão genérica podemos entender que apesar de não existir leis que caracterizam pedofilia como crime pode-se enumerar algumas praticas abusivas:
Atentado violento ao pudor;
Ameaça ou ato violento;
Estupro;
Pornografia Infantil;
Comercialização, fabricação ou divulgação de pornografia na internet ou afins com menores de quatorze anos.
3. CRACK: UM HISTÓRICO ASSUSTADOR
Vinte anos após sua chegada, o consumo de crack continua a aumentar em São Paulo (Oliveira & Nappo, 2008). A primeira apreensão desse derivado da cocaína na cidade de São Paulo aconteceu em 1990, registrada nos arquivos da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (DISE) (Uchôa, 1996). Sete anos depois, o volume de apreensões de crack aumentou 166 vezes, e de pasta básica, 5,2 vezes, ambas para a região sudeste (Procópio, 1999). A cidade de São Paulo foi a mais atingida. Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em bairros da Zona Leste da cidade (São Mateus, Cidade Tiradentes e Itaim Paulista), para em seguida alcançar a região da Estação da Luz (conhecida como “Cracolândia”), no centro (Uchôa, 1996). A partir daí, espalhou-se para vários pontos da cidade e do Estado (Duailibi et al, 2008).
Levantamentos epidemiológicos não detectavam a presença do crack antes de 1989 – tomando os meninos em situação de rua como exemplo, não havia relato de consumo até o referido ano. Em 1993, no entanto, o uso em vida atingiu 36% e, em 1997, 46% (Noto et al, 1998). Os serviços ambulatoriais especializados começaram a sentir o impacto do crescimento do consumo a partir do início dos anos 90, quando, em alguns, a proporção de usuários de crack pulou de 17% (1990) para 64% (1994), entre os dependentes de cocaína que buscavam tratamento (Dunn et al, 1996), atingindo níveis superiores a 70%.
Inicialmente, o consumo da substância atingiu uma faixa de usuários atraídos pelo preço reduzido em relação à cocaína, outros em busca de efeitos mais intensos para a mesma e, por fim, uma parte dos adeptos do uso injetável de cocaína abandonou essa via de administração com receio da contaminação pelo HIV, escolhendo o crack como alternativa (Dunn & Laranjeira, 1999). A primeira investigação sobre o consumo de crack no Brasil foi um estudo etnográfico realizado no município de São Paulo, com 25 usuários vivendo na comunidade (Nappo et al, 1994). Os autores relataram que o aparecimento da substância e a popularização do consumo tiveram início a partir de 1989. Perfil dos pesquisados: homens, menores de 30 anos, desempregados, com baixa escolaridade e poder aquisitivo, provenientes de famílias desestruturadas. Estudos com usuários de diversos serviços da capital paulista retrataram um perfil semelhante (Dunn & Laranjeira, 1999; Ferri, 1999). A mortalidade atingia uma porção considerável desses usuários, sendo os homicídios a causa mais freqüente (Ribeiro et al, 2006).
No início dos anos 2000, instituições ligadas à infância e a imprensa anunciaram uma provável redução do consumo em São Paulo, bem como da procura por atendimento na rede pública municipal (Dimenstein, 2000). Parecia que o problema do crack se reduziria, como se notava em países que investem em pesquisa e políticas públicas, como os Estados Unidos e a Inglaterra. O oposto aconteceu. Os dois levantamentos domiciliares (2001 e 2005) realizados pelo Centro de Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) mostraram que o consumo de crack quase dobrou (CEBRID, 2006). Os motivos dos usuários para o consumo também se alteraram: em meados dos anos noventa, “a busca por sensação de prazer” era a justificativa da maioria. No final da mesma década, porém, o consumo era estimulado pela compulsão, dependência ou como uma forma de lidar com problemas familiares e frustrações – o pensamento do usuário se reduzia ao consumo do crack, em detrimento do sono, comida, afeto e senso de responsabilidade (Nappo et al, 2001).
Além disso, atingia usuários de todas as classes sociais, que consideravam os serviços de atendimento públicos insuficientes e inadequados para suas necessidades (Nappo et al, 2001) – dado coletado há mais de dez anos. Políticas públicas específicas para a substância e seus usuários nunca existiram, apesar de a demanda por tratamento ser a que mais aumentou entre as drogas ilícitas nos últimos anos. Desse modo, enquanto os agentes de saúde esperavam pelo desaparecimento espontâneo e milagroso desse grupo, novas facetas desse modo de consumo foram se mostrando: a associação entre o uso de crack e a infecção pelo HIV (Malta et al, 2008) e a violência contra e entre os usuários são apenas duas delas (Carvalho & Seibel, 2009). Os usuários de crack têm diferenças marcantes em relação aos de cocaína inalada, sendo mais comum entre os primeiros o consumo de outras drogas, bem como o envolvimento em contravenções (Guindalini et al, 2006). Quanto ao tempo de uso, ao contrário do que se supunha anteriormente, há um grupo de usuários que utiliza a o crack há mais dez anos de forma ininterrupta, apontando para uma provável adaptação do usuário à cultura do uso (Dias et al, 2008; Abeid-Ribeiro, 2010).
Recentemente, um estudo qualitativo com usuários de crack (n=62) da cidade de São Paulo procurou atualizar o perfil desses usuários (Oliveira & Nappo, 2008). O perfil, masculino, jovem, com escolaridade e poder aquisitivo baixos, foi semelhante ao encontrado nos anos anteriores. Quase todos experimentaram uma grande quantidade de outras substâncias ao longo da vida – 14 foram citadas –, mas o crack permaneceu como a droga de escolha, ficando as demais como maneiras de lidar com os efeitos indesejados do consumo. Há um grande envolvimento desses usuários em atividades ilícitas, fomentado a princípio pela necessidade premente e constante da substância.
O estudo também identificou um grupo minoritário de usuários que utilizavam o crack controladamente, ou seja, um consumo não-diário, conciliado as atividade cotidianas – família, emprego,... – e desprovido de atividades ilícitas, como furtos, roubos ou tráfico. Os usuários com essas características foram mais expostos a intervenções terapêuticas e possuíam anteriormente padrões compulsivos de uso e migraram para esse modo ao longo dos anos, motivados pelo receio das conseqüências negativas presentes e potenciais.
Outro estudo acompanha há doze anos usuários de crack da cidade de São Paulo (n=131), que estiveram internados numa enfermaria de desintoxicação durante os anos iniciais da chegada da substância à cidade (1992 – 1994) (Ribeiro et al, 2007; Dias et al, 2008). Ao longo desse período, alguns achados relevantes foram encontrados e comparados com estudos semelhantes. Nos cinco primeiros anos, as taxas de mau prognóstico, tais como mortalidade (18%), prisão (12%) e desaparecimento (4%), atingiram mais de um terço dos usuários. Além disso, 10% estavam infectados pelo HIV, metade já havia cometido algum delito e um quinto fora detido ou condenado à prisão em vida (Ribeiro et al, 2007). Essa tendência a desfechos de alta gravidade foi maior nos primeiros anos – 92% das mortes aconteceram nos cinco primeiros anos. Por outro lado, o estudo observou uma tendência à abstinência entre os usuários, constituindo a condição mais comum entre os sobreviventes ao final de doze anos (Dias et al, 2008). Nesse mesmo período, a imensa maioria, incluindo os usuários, estava empregada de alguma forma, sendo os abstinentes aqueles que estavam melhor e formalmente empregados. A busca por apoio ao longo dessa década foi precária: poucos se trataram de modo constante, sendo a procura por internações para desintoxicação nas fases agudas de consumo o mais observado – ou seja, quem melhorou ou sobreviveu, salvo nos momentos de grande desorganização, caminhou por si próprio e com os apoios informais que conseguiu.
O consumo de crack em São Paulo – e atualmente em boa parte dos Estados brasileiros – é uma realidade grave e perene que necessita de soluções específicas e com durabilidade semelhante. O perfil de seus consumidores, jovem, desempregado, com baixa escolaridade, baixo poder aquisitivo, proveniente de famílias desestruturadas, com antecedentes de uso de múltiplas drogas e comportamento sexual de risco (Duailibi et al, 2008; Oliveira & Nappo; 2008), dificulta adesão dos mesmos ao tratamento, com necessidade de abordagens mais intensivas e diversificadas. Outras dificuldades encontradas pelo usuário de cocaína e crack para a busca e adesão ao tratamento é o não reconhecimento do consumo como um problema, passando pelo status ilegal e a criminalidade relacionada a estas drogas, pela estigmatização e preconceitos, pela falta de acesso ou não aceitação dos tipos de serviços existentes (Duailibi et al, 2008). Dependência química é uma doença cerebral crônica e recidivante, na qual o uso continuado de substâncias psicoativas provoca mudanças na estrutura e no funcionamento desse órgão (Kalivas & Volkow, 2005). Por outro lado, as múltiplas necessidades psicossociais dos usuários de crack comprometem suas vidas com igual intensidade. Desse modo, há necessidade de modelos de atenção capazes de reduzir o custo social das drogas e que considerem sua natureza biológica e psicossocial. Todos os modos de atendimento que privilegiaram um em detrimento do outro se mostraram ineficazes (Miller & Hester, 2003).
É preciso diversificar as opções de atendimento, por meio da criação de equipamentos intermediários ao ambulatório e à internação, tais como moradias- assistidas e hospitais-dia (e noite). Além disso, é preciso integrar melhor a rede existente, incluindo um melhor entrosamento entre a rede pública e os grupos de auto-ajuda e as comunidades terapêuticas que souberam se modernizar e se adaptar às normas mínimas da ANVISA. Ações aparentemente simples, baratas e comprovadamente eficazes que poderão alterar positivamente o panorama de saúde pública relacionada a essa substância nos próximos anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário