No dia 31 de outubro de 2010, o Brasil escolheu Dilma Rousseff, como seu quarto governante federal eleito pelo voto direto, após o fim da ditatura militar (Fernando Collor de Melo 1989-1991/Itamar Franco 1991-1994; Fernando Henrique Cardoso 1994-1998/1998-2002; Luis Inácio Lula da Silva 2002-2006/2006-2010). A plataforma eleitoral de Dilma baseou-se, principalmente, na idéia de “continuísmo” dos oito anos de mandato do presidente Lula a frente do palácio do planalto. Faltou apenas o tradicional “programa de governo do PT”, que foi substituido por uma carta com “13 compromissos”.
Dilma Rousseff foi eleita a primeira mulher presidente da República Federativa do Brasil. A frente da coligação “Para o Brasil seguir Mudando” (PT - PRB / PDT / PT / PMDB / PTN / PSC / PR / PTC / PSB / PC do B), Dilma venceu a disputa presidencial ao receber um pouco mais de 55,7 milhões de votos , o que representou 56% dos votos válidos. O candidato derritado, José Serra, obteve cerca de 43,7 milhões de votos (TSE – ELEIÇÕES 2010).
Juntamente com a eleição presidencial, houve eleições para os cargos de senador, deputado federal, governador e deputado estadual. Por isso, quando Dilma tomar posse em 1º de janeiro de 2011, o cenário político brasileiro estará mudado. A maioria dos governadores, dos deputados federais e senadores eleitos pertencem a coligação da nova presidente.
Dilma terá muitos desafios a frente do governo federal, tanto em relação a composição de cargos, como a liderança de um país marcado por grandes desigualdades sociais, ineficiência pública, corrupção governamental e fisiologismo partidário. Mas, apesar de tudo isso, é muito improvável que alguma coisa diferente seja feita. De forma geral a política brasileira deve continuar palmilhando o mesmo caminho dos ultimos anos. O que na opinão de Robinson Cavalcanti, não é algo muito bom, pois segundo ele, o projeto de governo do PT se desconfigurou totalmente depois dos oito anos do governo Lula:
Afirmativa inexata é a referência “a esse governo do PT”. Embora o presidente da República seja filiado ao partido, ele nem governa com seu programa, nem com seus quadros. O “lulismo” não é igual ao petismo, assim como o “getulismo” não foi igual ao trabalhismo. Durante os oito anos da gestão lulista, houve uma redução dos quadros dirigentes petistas e uma ampliação dos oriundos da denominada “base aliada”. Ela vai do fisiológico PMDB, da esquerda à direita históricas, de ex-marxistas a ex-sustentáculos do regime militar, de ex-guerrilheiros a herdeiros das capitanias hereditárias, de sindicalistas à fina flor do empresariado, em um bem costurado “pacto das elites”, cooptando como coadjuvantes (índios em filme de “cowboy”) alguns trabalhadores e alguns representantes das classes médias, e incluindo os “companheiros” Collor, Renan e Sarney. (CAVALCANTI 21/10/2010)
No entender de Cavalcanti, o carisma de seu fundador e líder maior, colocou o PT num segundo plano, principalmente depois que o PT escolheu ser um partido do sistema.
O programa do PT foi para o espaço há muito tempo e não passa de uma peça ornamental, com a garantia de que não será levado a sério. Antes das eleições presidenciais de 2002, o PT soltou a Carta de Olinda, reafirmando sua ideologia e seu programa. Pouco depois, na calada da noite, saiu a Carta ao Povo Brasileiro (chamada de Carta aos Banqueiros), quando, pelo alto, abjurando de sua história e dos seus princípios, o partido contra o sistema optou por ser um partido no e do sistema. Um dirigente foi enviado à capital do império para acalmar os donos do poder mundial. Outros conversaram com o capital nacional. (CAVALCANTI 21/10/2010)
Até mesmo uma característica singular dos petistas que era ouvir as bases para a construção do programa do partido, foi redefinida. Para Cavalcanti, a priorização das bases em processos democráticos, atraia diversos segmentos sociais para suas fileiras:
Ao contrário da maioria dos partidos brasileiros ...o Partido dos Trabalhadores teve uma origem e uma trajetória únicas em nossa história política, nascendo de baixo para cima, incluindo os excluídos, mobilizando, debatendo, democratizando as decisões. Em sua origem estavam marxistas críticos do modelo soviético, intelectuais progressistas, religiosos de linha profética, novos sindicalistas independentes e movimentos sociais organizados. Nela havia algumas certezas: o compromisso com a preservação e aperfeiçoamento do regime democrático, das liberdades públicas e dos direitos civis, uma rejeição ao modo de produção capitalista e ao modelo totalitário soviético, a busca da justiça social em um processo participativo, tendo no horizonte a construção de um socialismo democrático fincado em nossas raízes. Esse sonho embalou muitos e despertou o voluntariado de uma militância idealista. (CAVALCANTI 21/10/2010)
No entanto, “esse sonho acabou há muito tempo. Os idealistas caíram fora”. Ultimamente, a cúpula executiva do PT é quem decide e depois enquadra as bases. Segundo Cavalcanti, isso deve-se a busca do poder a qualquer preço, que guiou as alianças e o pragmatismo de um “lulismo que permitiu aos banqueiros os maiores lucros do mundo”, por um lado e, “estatizou o clientelismo paternalista para com os pobres e se decretou que quem ganha dois salários-mínimos é membro honorário da classe média” por outro. Desta forma, o PT ficou refém do capital político-eleitoral de seu maior líder.
Talves, esse fosse um dos momentos mais importantes para um povo que participa ativamente da vida polítca de seu país, mas o povo brasileiro prefere marter uma “certa distância”. A grande verdade é que a nossa sociedade se contenta com uma política representativa, onde não precise sujar as mãos. Esta infantilidade política, faz com que o povo seja facilmente seduzido pela síndrome do herói que vem resolver todos os problemas. Será que estamos refletindo a imagem de um povo impotente diante dos desafios que nos cercam?
O interessante, é que mesmo após a Constituição de 1988 estabelecer diretrizes para uma maior participação dos brasileiros na vida pública de seu país, seja através de partidos políticos, organizações não governamentais, igrejas e outros entidades da sociedade civil, a cultura de não-participação popular continua enraizada no povo. Algo que ficou evidente nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (suppme) de abril de 1996. O IBGE investigou temas relacionados ao associativismo, participação e representação de interesses em seis das dez áreas metropolitanas do país: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. A pesquisa mostrou que, dentro de um contexto de baixa taxa de associativismo de forma geral (quase 70%), a filiação a sindicatos é superior aos órgãos comunitários (amigos do bairro, esportivas, culturais, igrejas, etc) e associações de classe.
Dos 22,5 milhões de pessoas de 18 anos ou mais de idade pesquisadas, 31% tinham vínculo com um ou mais dos três tipos de associação acima considerados, na seguinte proporção: sindicato (53%), órgão comunitário (39%) e associação de classe (8%). A preferência pela filiação a sindicato e pela associação a órgão comunitário ocorre em contexto de baixa taxa de associativismo geral. (IBGE – Suppme 1996)
Destes 39% nos órgãos comunitários, observou-se que a proporção de pessoas que está associada às igrejas “é significativamente maior do que a proporção das que estão associadas a associações de bairro ou de moradores, esportivas ou culturais”. Algo realmente muito importante. Quanto a interação da população com a classe política, ela é muito baixa, mas mesmo quando a população procura um político, o seu principal motivo é no interesse de pedir alguma coisa, poucos oferecem seu apoio com sugestões.
Em números absolutos, não mais do que 1,8 milhões de pessoas, dentre as 22,5 milhões pesquisadas; em proporções, de cada 10 pessoas, 1 (uma) procurou político ou governante pessoalmente, através de carta ou de ligação telefônica. E quando o fez foi, principalmente, para pedir (47%) ou apresentar algum tipo de reivindicação (21%) e, com menor freqüência, fazer alguma sugestão (15%).
(IBGE – Suppme 1996)
E não somente isso, mas do total de 22,5 milhões de pessoas pesquisadas, apenas 18% participavam de atividades político-sociais. Desta fração mais participativa, a forma predominante de participação era assinar listas e abaixo-assinados. Enfim, é urgente e necessária uma maior participação política do povo brasileiro, em todas as instancias sociais, seja em condomínios, associações de bairro, igrejas, conselhos, partidos políticos, movimentos, redes, etc. SE O POVO BRASILEIRO NÃO IR A LUTA DEMOCRTÁCA PARA DEFENDER SEUS INTERESSES NÃO SERÁ A CLASSE POLÍTICA QUE IRA FAZE-LO, POIS ESSA, NORMALMENTE E OCUPA DE INTERESSES PESSOAIS.
Abraços
Lauberti Marcondes
Bibliografia:
CAVALCANTI, Robinson: PT - O Partido que nunca foi governo. Postado em 21/10/2010. Disponível em http://www.dar.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário